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Bruna Allemann
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Jornalista especializada em economia e finanças, Bruna Allemann descomplica o mercado financeiro e orienta sobre as melhores práticas de economia pessoal, investimentos e planejamento financeiro.

Como a Black Friday se espalhou pelo calendário e mudou o comportamento de consumo no Brasil

Ainda nem chegamos oficialmente à Black Friday, mas o assunto já domina os noticiários, as conversas e, claro, as estratégias de quem tenta aproveitar descontos — e também de quem tenta se aproveitar dos consumidores. A data, que originalmente seria apenas a última sexta-feira de novembro, ganha corpo muito antes do que deveria. E isso não acontece por acaso.

Quando abro meus e-mails nesta época do ano, vejo uma enxurrada de mensagens de lojas nas quais me cadastrei ao longo do tempo. É quase impossível encontrar um e-mail pessoal no meio de tantas propagandas. Essa antecipação não é um aquecimento inocente: ela é planejada de 30 a 45 dias antes, às vezes até mais. As campanhas são estruturadas com meses de antecedência, observando o comportamento dos consumidores, seus desejos e até seus históricos de navegação. Tudo é guiado pela lógica comportamental.

E é aí que entra o tal do FOMO — o medo de ficar de fora. As empresas apostam nesse sentimento. Elas criam pequenos gatilhos para que eu sinta que preciso comprar agora, que se eu não aproveitar aquele desconto antecipado, talvez eu perca a chance. E isso funciona porque, quando chega o dia oficial da Black Friday, é comum a pessoa já ter esquecido do que comprou antes. Ela olha de novo para uma oferta, acha vantajosa e compra mais. O gasto dobra, e essa é exatamente a engrenagem por trás da estratégia.

A Black Friday brasileira importou o modelo dos Estados Unidos, que acontece após o feriado de Thanksgiving. No começo, aqui no Brasil, ela não engrenava muito bem. Mas, com o tempo, essa lógica se espalhou e foi incorporada ao nosso calendário de consumo. Hoje, porém, já sabemos que há outras datas do ano com preços ainda melhores do que a própria Black Friday.

Produtos de supermercado, por exemplo, costumam valer bastante a pena. No ano passado, eu mesma comprei itens básicos como sabão de roupa e papel higiênico, e o desconto compensou de verdade. Eletrodomésticos também podem ser uma boa. O que não costuma seguir essa lógica são os eletrônicos. Esses, historicamente, ficam mais baratos no período do Dia das Mães. Isso porque o ciclo de lançamentos interfere diretamente no preço. Em agosto, setembro e outubro, acontecem as apresentações de novos modelos de marcas como Apple e Samsung. Assim, os aparelhos anteriores passam a entrar em promoção nesse período e tendem a cair novamente no Dia das Mães, quando o estoque antigo precisa girar.

Organizando mentalmente o calendário promocional, vejo como existe um padrão: Black Friday, depois Natal com preços cheios, depois a tradicional liquidação pós-Natal — famosa pela corrida às lojas no dia 26 de dezembro. Em janeiro, aparecem as maiores liquidações do ano, especialmente no setor de vestuário. Se eu conseguir esperar até o fim do mês, os preços caem ainda mais. Depois vem o período de Carnaval, em que os valores voltam ao normal. Em seguida, aproxima-se o Dia das Mães, que costuma ser muito favorável para eletrônicos. No meio do ano, chega a liquidação de inverno em julho. Depois disso, Dia dos Pais e, finalmente, mais uma Black Friday fechando o ciclo.

Saber navegar por esse calendário é importante porque, planejando e pesquisando, realmente dá para pagar melhor — não necessariamente barato, mas melhor — nos produtos que eu preciso. Esse é o principal recado: organização e pesquisa.

Sites de comparação de preços ajudam bastante. Neles, consigo ver gráficos dos últimos 12 ou 24 meses e identificar claramente em quais momentos os produtos foram realmente promocionados. E em muitos casos, não foi na Black Friday. Às vezes, a melhor oportunidade apareceu em outro feriado, em outra liquidação, em outro movimento do mercado.

Mas, além das oportunidades, é preciso ter cuidado. Preço muito barato demais geralmente indica problema. É comum encontrar lojas fictícias, perfis falsos no Instagram ou sites sem certificação de segurança. Por isso, usar meios de pagamento seguros é essencial. Sempre recomendo o cartão virtual, justamente para evitar clonagens. São tantas dicas que a gente poderia ficar o jornal inteiro falando sobre como fugir de golpes.

O mais importante, porém, continua sendo entender o comportamento por trás das campanhas e saber diferenciar oportunidade de armadilha. Assim, dá para aproveitar a Black Friday — e todas as outras promoções do ano — de forma mais consciente e segura.