Cientistas brasileiros e internacionais reagiram com forte preocupação após o novo rascunho das negociações da COP30, divulgado nesta sexta-feira (21/11) em Belém, simplesmente apagar do texto a expressão “combustíveis fósseis”. Para o grupo, a escolha representa um retrocesso grave em meio à emergência climática e vai contra compromissos já assumidos pela comunidade global.
Cientistas falam em “traição à ciência” e cobram avanço real
Em nota conjunta, os pesquisadores afirmam que a retirada do termo rompe com a ciência e contraria metas como a limitação do aquecimento global a 1,5°C. Eles destacam que, apesar de vários países defenderem o fim da dependência de combustíveis fósseis e do desmatamento — e mesmo com o impulso do governo brasileiro — o texto mais recente ignorou completamente essas diretrizes.
O documento alerta que é “impossível” proteger populações vulneráveis ou manter um futuro seguro sem mudanças estruturais. Isso inclui eliminar gradualmente o uso de petróleo, carvão e gás, além de derrubar de forma definitiva o desmatamento. Os cientistas dizem que não há como garantir estabilidade climática sem esses passos.
A lista de assinaturas reforça o peso da crítica: Carlos Nobre, Fatima Denton, Johan Rockström, Marina Hirota, Paulo Artaxo, Piers Forster e Thelma Krug — presidente do Conselho Científico da COP30 — endossam a cobrança. Para eles, omitir combustíveis fósseis do texto principal é incompatível com o orçamento de carbono já no limite.
Marina Hirota chamou atenção para o impacto direto das decisões da conferência. Segundo ela, incluir a eliminação gradual dos combustíveis fósseis “é fundamental para a manutenção da vida como conhecemos”. A pesquisadora alerta que promessas sem implementação podem acelerar perdas socioeconômicas e eventos extremos de forma mais intensa e imprevisível.
Com a pressão da comunidade científica aumentando, o tema deve se tornar um dos pontos mais sensíveis da reta final da COP30 — e um teste crucial para a ambição climática global.
