Preso neste sábado (22/11) por determinação do ministro Alexandre de Moraes, o ex-presidente Jair Bolsonaro encerra um dos ciclos mais extraordinários – e turbulentos – da política brasileira. O capitão reformado, que saiu do “baixo clero” para comandar o país com uma campanha turbinada pelas redes, agora responde por tentativa de golpe e enfrenta uma condenação de 27 anos e 3 meses.
Da ascensão digital à queda no STF
Bolsonaro surpreendeu o país ao vencer a eleição de 2018 por um partido pequeno, com pouco tempo de TV e um discurso antissistema que capturou o antipetismo pós-2013. Nas redes, virou fenômeno: convertia frases diretas, memes e confrontos em combustível político. Porém, seu governo se transformou em um campo permanente de conflito com o STF, governadores e imprensa.
Durante a pandemia, adotou postura negacionista, minimizou vacinas e atacou medidas sanitárias. As crises geradas pela gestão e pela retórica de confronto deram tração ao desgaste que cresceria nos anos seguintes. Após deixar o cargo, passou a responder a uma série de inquéritos, até ser condenado por tentativa de golpe em setembro.
Agora, a prisão preventiva atende ao entendimento de Moraes de que houve risco de fuga. Segundo o ministro, a violação da tornozeleira e a vigília convocada na porta do condomínio indicariam uma estratégia para evitar o cumprimento das decisões judiciais.
A trajetória que começou na caserna
Nascido em Glicério (SP) e criado no interior paulista, Bolsonaro entrou na carreira militar cedo. Formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras e se especializou em paraquedismo, chegando ao posto de capitão. A relação com o Exército azedou quando criticou salários em um artigo e foi acusado — e absolvido — de planejar explosões em quartéis, episódio que marcou sua saída rumo à política.
Elegeu-se vereador em 1988 e deputado federal em 1990, mantendo-se na Câmara por sete mandatos. Era conhecido por defender pautas militares e conservadoras, quase sempre distante do centro decisório do Congresso. Mesmo assim, ganhou atenção nacional com posições polêmicas, como a homenagem ao coronel Brilhante Ustra no impeachment de Dilma.
O terremoto eleitoral de 2018
Sem tempo de TV, Bolsonaro virou o protagonista inesperado da corrida presidencial. O atentado a faca em Juiz de Fora o retirou dos debates e intensificou sua aura de “candidato outsider”. Com forte apoio evangélico, militar e digital, derrotou Fernando Haddad com 55% dos votos e levou a direita ao poder após mais de uma década de PT.
No governo, aprovou a reforma da Previdência sob liderança de Paulo Guedes, mas enfrentou dificuldade para entregar outras reformas estruturais. Investiu em pautas de costumes, flexibilizou armas e acumulou choques institucionais. Na pandemia, seu negacionismo custou capital político e aprofundou a polarização.
Derrota, fuga, 8/1 e condenação
A tentativa de reeleição em 2022 foi marcada por ataques constantes ao sistema eleitoral. Derrotado por Lula, Bolsonaro deixou o país antes da posse e estimulou, direta ou indiretamente, grupos que acreditavam numa ruptura. O 8 de janeiro virou o ponto de inflexão: investigações do STF apontaram que ele trabalhava para deslegitimar a eleição.
Inelegível desde 2023, virou réu em 2024 e foi condenado por tentativa de golpe em setembro de 2025. Nos bastidores, articulava anistia e repetia que “não iria preso”. A prisão, no entanto, chegou, e agora deve ser seguida pela execução da pena, já que os recursos finais estão na reta final.
