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Bruna Allemann
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Jornalista especializada em economia e finanças, Bruna Allemann descomplica o mercado financeiro e orienta sobre as melhores práticas de economia pessoal, investimentos e planejamento financeiro.

Novo reajuste da Petrobras no querosene de aviação pressiona custos e aviva debate sobre passagens

Hoje a Petrobras anunciou aumento de 3,8 % no preço médio do querosene de aviação (QAV) vendido às distribuidoras — um acréscimo de R$ 0,13 por litro em relação a novembro.

Ao analisar a dinâmica recente do preço do querosene de aviação, torna-se necessário retomar o funcionamento básico do contrato entre a Petrobras e as companhias aéreas. Esses contratos estabelecem previamente quando ocorrerão reajustes, o que significa que os aumentos são premeditados conforme a oscilação do petróleo. A Petrobras atua simultaneamente como uma das maiores produtoras e, ao mesmo tempo, como importadora e exportadora. Boa parte do petróleo que poderia ser utilizado internamente acaba sendo direcionada à exportação, o que cria a necessidade de importar o próprio combustível que abastece as aeronaves no país.

Essa organização faz com que a dependência da exportação e posterior reimportação do querosene se torne um elemento central do preço final. Ao mesmo tempo, surge a questão de como a Petrobras tenta amenizar o impacto para as companhias aéreas e, por consequência, para os consumidores. A empresa adota um mecanismo semelhante a um plano de financiamento do combustível, permitindo que as companhias parcelem até 2 bilhões de reais referentes ao uso desse insumo. A estrutura busca suavizar o impacto imediato dos aumentos, mas não altera o peso que o querosene exerce sobre o valor das passagens.

Na composição do preço de uma viagem aérea, vários elementos coexistem: custos de transporte, tarifas de aeroportos, concessões e o combustível. Dentro desse conjunto, o querosene é apontado como o componente que mais pesa. A soma desses fatores explica a percepção constante de aumento no valor das passagens. Essa alta recorrente aparece como um ponto negativo, especialmente porque o preço do petróleo é altamente volátil. Tanto os aumentos quanto eventuais reduções dependem dessa oscilação, além da própria organização da Petrobras na compra e venda de petróleo no mercado internacional.

A limitação da capacidade de refino no país aprofunda esse movimento. A impossibilidade de processar internamente todo o petróleo necessário faz com que o país dependa do mercado externo, reforçando o impacto da oscilação internacional e da dinâmica de importação e exportação. O comportamento do preço, portanto, segue as mudanças do mercado global e aquilo que já está previsto em contrato.

Diante desse cenário, surge a necessidade de compreender o que a Petrobras pode fazer para reduzir a frequência dos aumentos ou evitar que ocorram em um curto espaço de tempo. Uma das alternativas mencionadas é o pagamento de menos dividendos. O percentual do lucro distribuído a investidores, prática comum em empresas listadas em Bolsa, poderia ser reduzido. Em vez de repassar uma fatia maior aos acionistas, a companhia pode direcionar parte maior para o próprio caixa, sem necessariamente realizar um reinvestimento direto em operações internas. A lógica seria reforçar o caixa para diminuir a pressão sobre reajustes de curto prazo no preço do querosene.

Essa estratégia se relaciona com a diferença clássica entre empresas que distribuem dividendos e empresas voltadas ao crescimento. No segundo caso, há suspensão parcial da distribuição de lucro para que os recursos sejam direcionados ao fortalecimento interno. No caso da Petrobras, a alternativa não é apresentada como reinvestimento, mas como retenção de lucro para amenizar a necessidade de repassar aumentos imediatos aos consumidores e às companhias aéreas.

A relação entre preço do petróleo, capacidade de refino e política comercial da Petrobras se revela, assim, determinante para entender o movimento das tarifas aéreas. Mudanças na cotação internacional podem elevar ou reduzir o preço do querosene, enquanto decisões internas da empresa influenciam a intensidade dessa variação no mercado doméstico. O cenário combina previsões contratuais, limitações estruturais e ajustes financeiros destinados a administrar a volatilidade permanente do setor.