A mobilização de produtores rurais contra a política agrícola europeia tensiona o primeiro dia da cúpula de líderes da Comissão Europeia, em Bruxelas, com destaque para uma decisão que pode afetar, diretamente, o Brasil. Entre esta quinta (18/12) e sexta-feira (19/12), os chefes de governo podem decidir o futuro do acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia, negociado há 25 anos.
Enquanto uma parte dos países do bloco querem a concretização do acordo, sobretudo a Alemanha e Espanha, países como França e Itália resistem à assinatura, pressionados pelos agricultores locais. A alegação diz respeito, principalmente, a perda de competitividade de produtos europeus regidos por uma legislação ambiental mais rigorosa que a sul-americana.
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Apesar das insatisfações dos agricultores, o Mercosul cedeu à iniciativa francesa de incluir medidas que protejam os produtos europeus, tanto que, na última terça-feira (16/12), as chamadas salvaguardas foram aprovadas pelo Parlamento Europeu. Em tese, isso resolveria o impasse sobre o tema.
A aprovação das salvaguardas, porém, não agradou os fazendeiros, e a pressão sobre o bloco prosseguiu. Com isso, a assinatura do acordo, inicialmente marcada para este sábado (20), está ameaçada, principalmente após declarações da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, dizer classificar a negociação como prematura.
Até então, França, Itália e Polônia são os três países que já explicitaram oposição ao acordo. Juntos, são suficientes para barrarem a proposta, pois somam 35% da população da União Europeia.
Imagens retratam caos em Bruxelas
Entidades ligadas à produção rural estimam que 10 mil produtores marcharam para Bruxelas. Nas ruas da cidade, imagens de caos ganharam o mundo. Fotos mostram embates com a polícia, rostos ensanguentados, pneus queimados e dezenas de tratores. Veja abaixo!







Além de se oporem ao acordo UE-Mercosul, os manifestantes também cobram maior orçamento dos governos para a agricultura, comércio justo para “proteger os padrões de produção” e fim de impostos adicionais, segundo a Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França.
Lula sobre Meloni
Mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu à resistência da Itália e França à assinatura do acordo. O petista disse que ligou para Meloni, ocasião em que ela teria dito que concorda com a assinatura, mas pediu um prazo de uma semana a um mês para convencer os agricultores italianos.
“Na conversa com a primeira-ministra Meloni, ela ponderou, para mim, que ela não é contra o acordo. Ela apenas está vivendo certo embaraço político por conta dos agricultores italianos, mas que ela tem certeza de que é capaz de convencê-los a aceitarem o acordo. Ela, então, pediu para mim que, se a gente tiver paciência de uma semana, 10 dias, de, no máximo, um mês, a Itália estará com o acordo”, descreveu Lula aos jornalistas.
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Alfinetada na França
Sobre a postura do presidente francês, Emmanuel Macron, Lula disse que a posição dele não o surpreende, mas ressaltou que a França não perderá com a assinatura do acordo com o Mercosul.
“A França não tem muito a perder por causa da agricultura brasileira, até porque eles produzem uma coisa, e eles produzem outra. Se nós tivermos capacidade de produzir carnes de boi, de porco, paciência. O francês tem o direito de escolher o que é melhor para ele”, rebateu Lula.
