As previsões para a economia brasileira em 2026 indicam crescimento próximo de 2%. À primeira vista, o número pode parecer razoável, afinal, a economia segue avançando. No entanto, uma análise mais atenta revela que esse ritmo ainda é insuficiente para enfrentar os desafios estruturais do país.
Após um desempenho mais robusto em 2024 e uma desaceleração já esperada em 2025, 2026 tende a se configurar como um ano de acomodação. O crescimento permanece positivo, porém limitado por juros elevados, incertezas fiscais e um cenário internacional volátil. Não há sinais de crise iminente, mas tampouco indícios de uma aceleração consistente.
O principal motor da economia continua sendo o setor de serviços, que engloba comércio, transporte, turismo e atividades empresariais. Para 2026, a expectativa é de expansão em torno de 2%. Embora esse setor seja fundamental para a sustentação do emprego e da renda, ele tem capacidade limitada de promover ganhos duradouros de produtividade quando atua de forma isolada.
A indústria, por sua vez, cresce pouco e de maneira desigual. O avanço concentra-se sobretudo nas atividades ligadas à extração de minérios e às commodities, com crescimento projetado próximo de 10%. Em contraste, a indústria de transformação, responsável pela produção de bens de maior valor agregado, segue em retração. Esse padrão reforça uma dependência crescente de setores primários e evidencia dificuldades de expandir a participação de setores de média e alta tecnologia no Brasil.
A construção civil e os serviços de energia e saneamento continuam em expansão, porém em ritmo mais moderado. Os investimentos em infraestrutura seguem avançando e, em 2026, devem atingir o maior patamar das últimas duas décadas. Ainda assim, permanecem aquém do volume necessário para superar os gargalos que comprometem a competitividade do país e sua inserção em novos mercados.
Na agropecuária, o cenário é de acomodação. Após um crescimento excepcional em 2025, o setor deve apresentar desempenho mais modesto em 2026, algo esperado em uma atividade fortemente influenciada por fatores climáticos e pelos preços internacionais. Parte relevante da desaceleração do PIB em 2026 decorre justamente desse menor ritmo do setor.
Pelo lado da demanda, o consumo das famílias cresce cerca de 1,5%. O mercado de trabalho segue contribuindo positivamente, com a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos, em padrão semelhante ao observado em 2025. O consumo do governo avança em linha com a média dos últimos três anos. Ainda assim, pode haver uma expansão fiscal mais significativa nos Estados e Municípios, que atualmente concentram parcela relevante do investimento público no país.
O investimento continua crescendo, mas perde fôlego. As empresas demonstram maior cautela diante de juros elevados e da proximidade do ano eleitoral. Sem uma retomada mais vigorosa do investimento, torna-se difícil elevar a produtividade e sustentar taxas de crescimento mais altas no médio prazo.
No setor externo, as exportações avançam em ritmo menor, acompanhando a desaceleração da economia global, enquanto as importações crescem pouco, sinalizando uma demanda interna ainda enfraquecida.
Crescer próximo de 2% ao ano é suficiente para manter a economia em funcionamento, mas é pouco para um país que ainda precisa avançar de forma mais consistente. Sem mudanças capazes de elevar a produtividade, ampliar a previsibilidade e estimular o investimento, o Brasil tende a permanecer preso à armadilha da renda média. Salvo a ocorrência de eventos hoje não mapeados, 2026 não deve ser um ano negativo, mas tampouco será transformador.
