O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estuda adquirir uma nova aeronave presidencial após enfrentar três episódios de problemas técnicos em voos oficiais durante seu atual mandato. A avaliação ocorre neste fim de dezembro de 2025, mas enfrenta obstáculos devido ao alto custo estimado entre R$ 1,4 bilhão e R$ 2 bilhões, além do possível desgaste político em ano eleitoral. O Ministério da Defesa e a Aeronáutica trabalham na finalização das cotações para a possível substituição.
O incidente mais recente aconteceu no início de outubro deste ano, no Pará, quando uma falha no motor antes da decolagem obrigou a comitiva presidencial a trocar de aeronave enquanto se dirigia para Breves, na Ilha do Marajó.
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Além das questões de segurança, Lula busca uma aeronave com maior autonomia para voos internacionais, mais espaço para reuniões, área vip e um quarto mais amplo com cama. Tanto o presidente quanto a primeira-dama, Janja, demonstram insatisfação com as condições do atual Airbus A319CJ, conhecido como Aerolula.
Em março de 2025, o Aerolula precisou realizar uma manobra de arremetida ao tentar pousar no aeroporto de Sorocaba, interior de São Paulo, devido a ventos fortes. Já em outubro de 2024, a aeronave sofreu uma pane no México que forçou a tripulação a voar em círculos por quase cinco horas por causa da falha em uma das turbinas.
Este último episódio, ocorrido no Aeroporto Internacional Felipe Ángeles, foi considerado particularmente grave pelo presidente. Na primeira reunião ministerial de 2025, Lula afirmou que aquela foi uma das ocasiões em que temeu por sua vida.
O orçamento do Ministério da Defesa para 2026 está fixado em R$ 141 bilhões. Deste total, R$ 107,9 bilhões, equivalentes a 76%, serão destinados ao pagamento de pessoal. Para “manutenção e suprimento de material aeronáutico” estão alocados R$ 812 milhões, valor R$ 145 milhões superior ao previsto para 2025.
A previsão é que o orçamento seja apresentado ao presidente no início de 2026. O comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno, enfrenta dificuldades para levantar cotações no exterior de aeronaves que atendam às exigências do Planalto, devido à escassez desse tipo de avião no mercado internacional.
Em 2024, a FAB chegou a sondar preços de aeronaves alemãs, incluindo uma utilizada pela ex-chanceler Angela Merkel, mas a negociação não avançou. A Aeronáutica acionou corretores especializados para buscar, em diferentes países, empresas capazes de fornecer modelos compatíveis com os critérios definidos pela Presidência.
A aquisição, caso aprovada, ocorreria por meio de licitação, mas pode levar meses para ser concluída devido às especificidades de fabricação. O processo entre aquisição e incorporação efetiva da aeronave poderia se estender por meses, concluindo-se apenas no segundo semestre de 2026.
Aliados do presidente se dividem sobre a decisão. Uma parte dos assessores defende que a compra não ocorra para evitar desgaste à imagem do presidente, que será candidato à reeleição. Outro grupo considera viável deixar a aquisição encaminhada apenas para 2027. Entre os que se opõem à compra estão auxiliares próximos de Lula no Planalto e lideranças do PT.
O ministro da Defesa, José Múcio, defende a aprovação de uma proposta que estabeleceria um piso de 2% do PIB para a área, o que representaria aproximadamente R$ 244 bilhões. Nos bastidores, Múcio compara a situação brasileira com a do Chile, destacando que o Brasil possui um território 11 vezes maior, mas mantém uma frota de Defesa menor que a do país andino.
Apesar das restrições orçamentárias, o governo conseguiu um aporte significativo para a Defesa em 2025. O Congresso autorizou a utilização de R$ 30 bilhões ao longo de seis anos para investimentos estratégicos no setor.
