O Banco Central decretou a liquidação do Banco Master nesta terça (18/11) e escancarou uma crise que já vinha crescendo nos bastidores. A decisão veio no mesmo dia em que o dono da instituição, Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal, acusado de participar de um esquema que teria movimentado bilhões em ativos falsos e operações irregulares. O banco já estava à beira da falência, pressionado pelo custo altíssimo de captação e pela aposta em investimentos de risco que fugiam completamente do padrão de mercado.
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O rombo, as tentativas de venda e o “sinal de socorro” dos CDBs
Nos últimos meses, o Master apostou em operações consideradas temerárias para tentar manter o caixa funcionando. A instituição buscou compradores, como o Banco de Brasília (BRB) e um consórcio ligado a investidores dos Emirados Árabes Unidos, mas as negociações travaram por falta de transparência, pressões políticas e alertas de órgãos de controle. Enquanto isso, o banco passou a oferecer CDBs pagando até 180% do CDI, muito acima do que instituições saudáveis podem bancar, o que especialistas classificaram como um pedido explícito de socorro financeiro.
O movimento assustou o mercado. Sem acesso a crédito barato, o Master virou-se para investidores pessoa física, prometendo retornos altos para captar dinheiro rápido. Só que esses juros turbinados só se sustentam quando o banco empresta para projetos altamente arriscados. Investidores começaram a correr para vender seus títulos no mercado secundário, mas quase não havia compradores. Quem conseguiu vender teve de aceitar descontos pesados.
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PF aponta fraude bilionária e “carteiras de crédito” que não existiam
As investigações começaram em 2024 e ganharam força após suspeitas de que o Master teria fabricado carteiras de crédito falsas. Segundo a PF, parte desses ativos inexistentes chegou a ser repassada ao BRB por R$ 12,2 bilhões. Em audiência no Senado, o diretor-geral Andrei Rodrigues afirmou que o esquema pode ter movimentado cerca de R$ 12 bilhões. Na casa de um dos investigados, a PF apreendeu R$ 1,6 milhão em espécie. O BC, o Coaf e o Ministério Público acompanham o caso, que pode resultar em acusações por gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
O que muda para clientes e investidores
Com a liquidação extrajudicial, todas as operações do Banco Master foram encerradas e um liquidante nomeado pelo BC assume o controle total da instituição. Os bens de administradores e controladores ficam indisponíveis e todas as dívidas vencem automaticamente. O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) cobre até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, incluindo rendimento até o dia da decretação. Quem ultrapassar esse valor entra na lista de credores e só recebe pela massa falida. Saques, transferências e pagamentos ficam suspensos, enquanto clientes com empréstimos seguem obrigados a quitar as parcelas.
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A história que terminou em colapso
Fundado em 1974 como Máxima Corretora, o Master se transformou em banco e cresceu apostando em crédito e investimentos. Nos últimos anos, ganhou visibilidade ao oferecer rendimentos agressivos e atrair milhares de investidores, mas perdeu acesso a crédito barato, viu operações naufragarem e tentou vendas que nunca se concretizaram. O que parecia ousadia virou risco sistêmico e, agora, caso de polícia.
