Em Belém (PA), a Praça da República virou ponto de encontro da Black Zone, espaço que reúne mulheres negras de diferentes regiões durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30). Entre trocas de experiências, debates e oficinas, elas ecoam suas vozes paralelamente às negociações oficiais e se preparam para a Marcha das Mulheres Negras em Brasília, no dia 25 de novembro.
Uma homenagem e 10 anos de história
O espaço presta homenagem à belenense Raimunda Nilma Bentes, a Dona Nilma, artista, escritora e ativista que idealizou a primeira marcha em 2015. “Foi muita gente, muito mais do que a gente pensava que ia. Pareceu que havia uma demanda reprimida”, relembra. A primeira edição reuniu cerca de 70 mil mulheres, contra o racismo e a violência, antecipando temas que seguem atuais uma década depois.
Hoje, os desafios permanecem: reparação histórica, violência, xenofobia e racismo continuam no centro das pautas. Para Maria Malcher, coordenadora do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará, a luta vai além da visibilidade. “Queremos denunciar, aprofundar e dar voz às demandas do movimento de mulheres negras”, afirma.
Bem viver como política e território
O conceito de “bem viver”, defendido por Dona Nilma, conecta demandas macro e locais. No plano global, envolve transição energética justa, cooperação em vez de competição e economia subordinada ao meio ambiente. Localmente, abrange melhores condições de trabalho, valorização do cuidado e participação política das mulheres negras, maioria da população feminina no Brasil.
Segundo Dona Nilma, essas pautas são urgentes, especialmente em contextos de desigualdade socioeconômica, cultural e ambiental. “As mudanças vêm para todo mundo, mas são agravadas pelas condições já existentes”, alerta.
Comitê Nacional das Mulheres Negras por Justiça Climática
Para organizar essas ações, foi criado o Comitê Nacional das Mulheres Negras por Justiça Climática, reunindo 36 organizações do movimento negro. O grupo prepara um manifesto a ser entregue aos chefes dos Três Poderes em Brasília, durante a marcha. A programação inclui mais de 50 atividades, diálogos transnacionais e debates sobre juventude, LGBTQAPN+ e afrolatino-americanos, além de cartilhas educativas para orientar participantes.
Segundo Maria Malcher, a marcha não é apenas um ato simbólico, mas uma plataforma de formação, mobilização e proposições concretas. Entre os documentos produzidos, estão manifestos econômicos, educacionais e pesquisas sobre políticas públicas para mulheres negras.
