Em época de Black Friday e compras de Natal, as dívidas crescentes dos brasileiros estão no radar das autoridades. A preocupação vem estimulando o Serasa a adotar descontos surpreendentes, de até 99%, em pendências de consumidores em seu Feirão Limpa Nome. Até o dia 30 de novembro, os 79 milhões de endividados do país têm a oportunidade de por fim ao famoso “nome sujo na praça”.
Para alcançar diversos cantos do Brasil, o Serasa fez parceria com 1,6 mil empresas e com os Correios, que vão disponibilizar suas 7 mil agências pelo País para atendimento presencial gratuito.
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Com a ação, a expectativa é reduzir a inadimplência e também permitir que ex-endividados possam voltar a fazer parte do grupo de consumidores. O 13º salário, neste contexto, pode ajudar tanto a quitar as pendências quanto ajudar no consumo no fim do ano.
No total, o Brasil soma 79 milhões de endividados. São 313 milhões de débitos ativos, alcançando o valor de R$ 496 bilhões. O valor médio das dívidas é de R$ 6.274,82.
“O que a gente vê ao longo dos últimos anos é um aumento constante da inadimplência”, diz Gabriela Siqueira, especialista da Serasa em educação financeira, em entrevista ao TMC.
O Mapa da Inadimplência da Serasa confirmou a expectativa e o mês de setembro registrou o ingresso de 318 mil novos consumidores, avanço de 0,4% em relação a agosto e de 9% em comparação ao mesmo período do ano passado.
Os bancos e os cartões de crédito são os “vilões”, responsáveis por 27,02% de todas as dívidas. Em seguida, vêm as contas básicas, como energia e água (21,33%), e as empresas financeiras (19,92%).
Causas da inadimplência
O aumento do custo de vida, o uso descuidado do cartão de crédito e o desemprego estão entre as principais causas das dívidas. Outro motivo, que não entra oficialmente na lista, é o empréstimo de cartão.
“Vemos muito isso: as pessoas emprestam o cartão de crédito, emprestam o seu próprio nome. Se a nossa própria vida financeira às vezes passa por altos e baixos, imagina a de outra pessoa.”
Dívidas impediram atendente de conhecer as netas
Almir Carlos da Silva foi um dos que conseguiu voltar ao grupo dos consumidores ativos após limpar seu nome no último feirão, em abril deste ano. A dívida do atendente se aproximava de R$ 90 mil. Após negociações, se transformou numa pendência de apenas R$ 2.500, devidamente pagos em oito parcelas.
“Você tira um fardo muito pesado das costas. É aquele fardo que você jamais queria carregar na vida”, disse Almir ao TMC.
Dos seus 64 anos de vida, 25 foram de “nome sujo”. Tinha pendências com bancos, lojas de varejo, prestadores de serviço e contas básicas. Ele acreditava até que algumas dívidas já haviam prescrito. “Quem caduca somos nós, não as dívidas”, diz, em tom bem humorado. “Uma hora a cobrança vem.”
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Durante o quarto de século em que esteve endividado, Almir sofreu diversas limitações. Uma das maiores dificuldades foi encontrar um bom emprego. “Eu não tinha cartão, não conseguia abrir uma conta no banco”.
A dificuldade maior foi ficar longe do filho e das netinhas, que moram nos Estados Unidos. “Agora vou poder conhecer minhas duas netinhas, de 5 anos e um ano e oito meses. Elas nasceram lá. Não vejo o meu filho há sete anos”, afirma, emocionado. “Vou poder ter cartão e parcelar a minha viagem.”

“Mágica” da redução da dívida
Gabriela Siqueira explica que é do interesse das empresas oferecer descontos gigantes para os consumidores.
“Elas concedem esses percentuais altos de desconto quando acham que, de alguma forma, perderão aquele consumidor”, afirma a especialista. “Por meio dessa plataforma (Feirão Limpa Nome), os credores conseguem ofertar maiores porcentagens de desconto e os consumidores conseguem ter acesso a ela de forma mais democrática, mais simples.”
Como reduzir a inadimplência?
O caminho para evitar as dívidas passa pela educação financeira, diz a especialista.
“As pessoas precisam entender como podem organizar tanto o pouco quanto o muito que têm. É possível organizar melhor o orçamento familiar ou o pessoal, fazer uma planilha de gastos”, explica.
Uma das bases da educação financeira é a reserva de emergência. “Pode ser construída com R$ 50 ou R$ 100 ao mês. É um caminho seguro, principalmente se acontecer um desemprego, uma doença na família. Isso faz parte da nossa jornada, né? Isso tudo é uma forma de se blindar da inadimplência.
