A cena política brasileira em torno da eleição de 2026 mostra um quadro em que direita e esquerda não conseguem avançar. A direita permanece vinculada ao nome de Jair Bolsonaro, enquanto a esquerda mantém sua dependência de Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação expressa na transcrição observa que ser presidente da República teria perdido peso em comparação ao poder acumulado por líderes do Congresso, e também aponta para um movimento do Supremo Tribunal Federal que, segundo a análise, buscaria assumir características de um governo oligárquico.
Do lado da direita, a interpretação apresentada é a de que o grupo vive uma espécie de sebastianismo. A referência é ao rei Sebastião, desaparecido no século XVI, cuja volta era esperada pelos portugueses. A direita enfrentaria um dilema contínuo: com ou sem Bolsonaro. A preocupação em não ser visto como traidor e a pressão exercida pela família do ex-presidente sobre possíveis candidatos formariam um ambiente de chantagem. A leitura é que Bolsonaro não seria uma figura possível para a disputa presidencial de 2026, e, mesmo assim, parte da direita teria dificuldade em lidar com essa perda de centralidade.
A esquerda também enfrentaria limitações. Segundo a análise, os anos recentes não produziram novos nomes capazes de substituir Lula. Guilherme Boulos é descrito como jovem e associado a um fenômeno local, enquanto Fernando Haddad já teria sido testado sem sucesso. Assim, a ausência de um herdeiro político evidenciaria a incapacidade do PT e da esquerda em planejar a sucessão a médio e longo prazo, mantendo o foco no ex-presidente.
A partir do impeachment de Dilma Rousseff, surgiria uma dúvida sobre qual cargo detém maior poder: a Presidência da República ou as lideranças da Câmara e do Senado. Estas últimas seriam capazes de obter recursos, pressionar o Executivo e paralisar o governo conforme sua vontade.
A discussão se desloca então para uma perspectiva histórica. Recuperando reflexões da filosofia política desde Platão, há a descrição de três sistemas clássicos de governo: o comando por uma pessoa, o comando por um grupo de notáveis — a oligarquia — e o comando por representantes do povo, definido como democracia. Esses sistemas se alternariam e se combinariam ao longo do tempo. A avaliação é que o STF estaria seguindo uma trajetória que lembraria a formação de uma oligarquia de notáveis, capaz de governar indiretamente ao paralisar decisões do Legislativo e do Executivo.
Diante desse cenário, surge a questão sobre o desfecho de crises políticas como a atual. A leitura histórica sugere ciclos de entropia, conflito e degeneração nos sistemas de poder, que resultariam em rearranjos institucionais nos quais um dos três grupos — o governante individual, o grupo de notáveis ou os representantes do povo — acaba se impondo. O primeiro estágio seria a desorganização do sistema político, possivelmente acompanhada por mobilizações populares, perda de credibilidade e necessidade de uso de força estatal, com consequente cerceamento de liberdades.
A análise acrescenta uma variável contemporânea ausente na Antiguidade: as redes sociais. Elas podem acelerar o processo de inflamação popular. No caso brasileiro, marcado por uma classe política distante da população e por crescente descrédito nos representantes, podem surgir reações como desinteresse geral ou uma espécie de anemia social, em que as pessoas assumem não esperar nada do governo e passam a cuidar exclusivamente da própria vida.
Esse quadro pode gerar dois caminhos. Um deles é a percepção de que os indivíduos precisam gerir a própria vida sem esperar soluções governamentais, aproximando-se de uma lógica liberal mencionada na filosofia política. O outro é o aprofundamento do descrédito e do cinismo atribuído à classe política, o que poderia resultar em desorganização social e política e até na repetição de episódios de grande mobilização popular, como os de 2013.
