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Luiz Felipe Pondé
Luiz Felipe Pondé
Filósofo de destaque, professor universitário e autor de diversos livros, Pondé é conhecido por suas análises ácidas e reflexões profundas sobre a cultura, a sociedade contemporânea e a existência humana. A coluna Sem Dó oferece uma visão crítica e sem concessões sobre os temas do cotidiano, provocando o ouvinte a pensar para além do senso comum.

Feminicídio, violência contra mulheres e discursos recorrentes sobre cultura e criminalidade

Os episódios de violência contra mulheres têm sido descritos como recorrentes e constantes, aparecendo diariamente no noticiário. Há quem fale, inclusive, em uma espécie de epidemia de homens que matam mulheres, espancam, agridem e praticam todo tipo de horror. Nesse contexto, o termo feminicídio, que ainda causa estranhamento em parte das pessoas, foi criado para definir uma situação específica: um ser humano que é morto por ser mulher. Esse é o conceito de feminicídio.

A criação do termo não tem como objetivo esvaziar o conceito de homicídio, como alguns argumentam, mas chamar atenção para um fenômeno específico, tanto do ponto de vista criminal quanto cultural. Trata-se de uma tentativa de destacar uma realidade que envolve violência direcionada às mulheres em razão de sua condição feminina.

Para além da terminologia, a existência de uma cultura de violência e de desrespeito à mulher é apontada como um fato observável. Esse comportamento pode ser percebido até mesmo em ambientes de trabalho. Em algumas situações, pessoas que adotam discursos públicos de respeito às mulheres demonstram, no cotidiano, atitudes que indicam o contrário. Em relações hierárquicas, torna-se evidente que determinadas mulheres não são respeitadas da mesma forma que seriam caso fossem homens. Diante da mesma situação, a reação tende a ser diferente quando o interlocutor é masculino.

Essa realidade é tratada como estranha e associada a questões de educação e de cultura. A análise proposta segue por outro caminho, buscando levantar uma possível causa com base em uma leitura inspirada em conceitos freudianos, ainda que apresentada de forma direta. Segundo essa abordagem, homens que maltratam, batem e assassinam mulheres agiriam movidos por uma incapacidade profunda. Essa incapacidade é descrita não apenas no sentido físico, mas também no campo afetivo e relacional, marcada pelo medo.

O medo é reconhecido como um traço comum a todos os seres humanos. No entanto, nessa situação específica, a avaliação é de que esses indivíduos seriam incapazes de estabelecer relações afetivas e sexuais, o que se refletiria em comportamentos violentos. Essa interpretação não se limita apenas àqueles que cometem atos extremos, mas também a grupos que se manifestam em canais digitais e redes sociais.

São citados discursos difundidos em plataformas como o YouTube, associados a termos como “red pill”, em referência ao filme Matrix, e a grupos que se identificam como incel, ou celibatários involuntários. Nesses discursos, mulheres são apresentadas como inimigas, especialmente por terem avançado em papéis sociais e conquistado maior autonomia sobre suas próprias vidas. Esses grupos são descritos como propagadores de ataques verbais e ofensas constantes às mulheres.

Ao ouvir esse tipo de discurso, a percepção expressa é a de que se trata de pessoas marcadas por uma grande falta de educação e por dificuldades de relacionamento. Há a avaliação de que muitos desses indivíduos acabam evoluindo para atos de violência. Paralelamente a isso, são mencionadas iniciativas governamentais, como reuniões e debates, que não teriam apresentado resultados concretos.

No Brasil, essa situação é inserida em um contexto mais amplo de impunidade. Há a percepção de que criminosos frequentemente não são punidos, o que contribui para a continuidade da violência. Essa lógica é associada à ideia de que a aplicação da lei ocorre de forma desigual, enquanto muitos agressores permanecem em liberdade.

Nesse cenário, mulheres, descritas como companheiras e parceiras na vida cotidiana, continuam sendo mortas e espancadas. A responsabilidade por esses atos é atribuída a indivíduos descritos como assassinos que circulam livremente. A afirmação final é de que essa situação não pode continuar dessa forma.

Embora críticas sejam feitas de maneira recorrente, destaca-se a necessidade de se encontrar uma forma eficaz de enfrentar o problema. A eficácia é mencionada no sentido de produzir resultados concretos, capazes de interromper a repetição desses crimes e de impedir que se continue tratando com tolerância indivíduos que praticam atos de violência contra mulheres.