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Bruna Allemann
Bruna Allemann
Jornalista especializada em economia e finanças, Bruna Allemann descomplica o mercado financeiro e orienta sobre as melhores práticas de economia pessoal, investimentos e planejamento financeiro.

Finanças comportamentais, vieses psicológicos e como decisões emocionais afetam investimentos

Poucas pessoas sabem, mas grande parte dos profissionais que atuam de forma consistente no mercado financeiro orienta seus clientes a compreender conceitos ligados às finanças comportamentais. Esse campo da economia estuda os vieses psicológicos formados ao longo da vida e como eles influenciam decisões financeiras, tanto em investimentos quanto nos gastos do dia a dia. A compreensão desses vieses é apresentada como parte central do relacionamento entre profissionais do mercado e seus clientes.

Atualmente, são catalogados mais de 180 vieses comportamentais, entendidos como armadilhas recorrentes nas quais as pessoas podem cair. Embora seja difícil conhecer todos, alguns são mais comuns e aparecem com frequência nas decisões financeiras. Um dos mais conhecidos é a aversão à perda. Esse viés parte do princípio de que o sofrimento associado à perda de algo é maior do que a satisfação gerada por um ganho equivalente. As pessoas tendem a sentir mais intensamente a perda de dinheiro do que a alegria provocada por ganhos financeiros.

Esse comportamento ajuda a explicar por que muitos investidores reagem de forma mais negativa a perdas em aplicações como Bolsa de Valores ou criptomoedas do que valorizam ganhos expressivos obtidos em outros ativos. Mesmo quando um investimento apresenta um retorno elevado, como uma valorização de centenas por cento em uma ação, a atenção pode se concentrar apenas no dinheiro perdido em outra operação. Essa reação emocional pode atrapalhar a análise racional sobre escolhas acertadas ou equivocadas e minimizar resultados positivos obtidos em diferentes investimentos.

Outro viés bastante recorrente, especialmente no mercado de criptomoedas, é o FOMO, sigla para Fear of Missing Out, ou medo de ficar de fora. Esse comportamento não se restringe às finanças e aparece em diversas áreas da vida cotidiana. No contexto dos investimentos, o FOMO ocorre quando decisões são tomadas com base na sensação de que outras pessoas estão ganhando dinheiro e que é preciso agir rapidamente para não perder uma oportunidade.

Um exemplo citado envolve as chamadas meme coins. Nesse tipo de ativo, o interesse cresce rapidamente a partir da exposição em notícias e redes sociais. Pessoas investem motivadas pela repercussão e pelo receio de ficarem de fora de uma tendência. Quem entra antes pode obter ganhos elevados, mas, à medida que esses investidores realizam lucros e sacam seus recursos, o preço do ativo tende a cair. Aqueles que entram mais tarde, movidos pelo FOMO, frequentemente acabam registrando perdas. O fator central desse comportamento é a ausência de compreensão aprofundada sobre o ativo, substituída pela influência do volume de notícias e comentários.

Esse tipo de viés não se limita aos investimentos. Ele também aparece em decisões relacionadas a consumo, moda, política, economia e outros aspectos do cotidiano. O padrão é semelhante: agir sem reflexão aprofundada para acompanhar um movimento percebido como dominante.

Outro ponto abordado é o viés do otimismo ou do pessimismo. As pessoas possuem gatilhos emocionais que funcionam como uma montanha-russa de emoções. Dependendo do momento de vida, esses gatilhos podem se intensificar. Quando alguém obtém sucesso recorrente em investimentos e vive uma fase financeira favorável, pode desenvolver um excesso de otimismo, o que também afeta a tomada de decisão. Por outro lado, períodos de perdas podem gerar pessimismo acentuado.

Esse comportamento está relacionado à ideia de que a economia é uma ciência social e comportamental, sujeita a mudanças e sem padrões fixos. Mesmo profissionais do mercado financeiro lidam com essa imprevisibilidade. O excesso de otimismo ou pessimismo é associado às reflexões apresentadas no livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, de Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002.

O livro descreve dois sistemas de funcionamento do cérebro. O primeiro é rápido e baseado em decisões automáticas e emocionais, que demandam menos energia. O segundo é mais lento, envolve reflexão, racionalização e controle das emoções, exigindo maior esforço cognitivo. Segundo essa abordagem, compreender como o cérebro funciona ajuda a reconhecer emoções como otimismo e pessimismo e a tomar decisões mais estruturadas, inclusive no campo dos investimentos.

Ao retomar o tema do FOMO, surge a reflexão de que esse viés cria uma sensação de urgência que impede a consulta a profissionais da área, como gerentes de banco ou assessores de investimento. A necessidade de agir imediatamente é vista como prejudicial a qualquer planejamento financeiro, do mais simples ao mais complexo.

A orientação apresentada é que, exceto em operações específicas como day trade, não existem investimentos que exijam decisões imediatas baseadas em notícias ou falas de influenciadores. Construções de longo prazo ocorrem ao longo de meses ou anos, acompanhando ciclos econômicos como períodos de juros altos ou baixos. Nesse contexto, há tempo para analisar e decidir.

Para quem busca construir patrimônio, inclusive por meio da compra de ações a preços considerados mais baixos, não há necessidade de agir em prazos curtos como 24 ou 48 horas. Tomar uma decisão dentro de um mês, por exemplo, não altera de forma relevante os resultados no longo prazo. O FOMO está associado ao chamado efeito manada, no qual todos entram e saem ao mesmo tempo.

A recomendação final é se desvincular desse comportamento. O mercado financeiro se beneficia das reações comportamentais dos investidores, especialmente daqueles que entram e saem de ativos motivados por medo de perder oportunidades. Para quem adota um planejamento de longo prazo, conversar com um gerente de banco ou assessor de investimentos no momento adequado não altera de forma significativa a trajetória de construção de patrimônio.