Quando Gene Simmons, baixista e fundador da banda Kiss, veio ao Brasil em 2023 para tocar no “Summer Breeze Brasil” com seu show solo, eu tinha uma missão: levar uma camiseta da rádio em que trabalhava pra ele assinar e sortear para os ouvintes depois.
Fiquei pensando como faria pra chamar a atenção dele. Estávamos na área de imprensa do festival e tinha uma fila enorme de fãs pra falar com ele, além de vários seguranças em sua volta. Ele sentaria numa mesa e autografaria guitarras e fotos. Chamei pelo nome verdadeiro dele, em hebraico, Chaim Witz.
Falo o idioma desde pequena, sou judia e aprendi no colégio. Ele olhou pra mim na hora, assinou a camiseta e me deu um belo tapão nas costas. Ainda pedi pra ele falar: “Oi, aqui é o Gene Simons e vc esta ouvindo a Transamérica”. Ele falou, e ainda mandou essa no final: “And you have… a bunda linda!!” Ju-ro!! Em português!!
A história de vida dele é incrível. Nascido como Chaim Witz, em Haifa, Israel, ele se mudou com sua mãe, Flora, para Nova York quando tinha 9 anos. Sua mãe, que era judia e sobrevivente de um campo de concentração, foi fundamental em sua vida e no desenvolvimento de seu caráter.
Em 1973, junto com Paul Stanley, fundou o Kiss, que mais tarde viria a se tornar uma das bandas mais importantes do rock.
Aprendeu inglês lendo revistas em quadrinhos e assistindo a filmes, principalmente os de terror, pelos quais era apaixonado. Levou essa paixão para os palcos ao criar as fantasias e maquiagens do grupo, que transformaram o Kiss em uma máquina de fazer dinheiro, licenciando sua imagem para praticamente qualquer produto. “Não havia ninguém para nos dizer o que fazer, e é por isso que funcionou”, explica.
Dono de uma fortuna estimada em US$ 300 milhões, proprietário de dois jatinhos e mais de trinta carros de luxo, Simmons não se envergonha de ostentar o que conquistou.
Entre 2006 e 2012, escancarou sua riqueza no reality “Gene Simmons Family Jewels”, em que exibia a intimidade com seus dois filhos e a esposa, Shannon Tweed, ex-coelhinha da Playboy. Para surpresa de quem imaginava um astro cheio de vícios, ele se mostrou um cara extremamente certinho, enfatizando que jamais ficou bêbado ou dopado.
Ele construiu sua trajetória carregando uma marca pessoal rara no meio: nunca bebeu e nem usou drogas. A decisão, segundo o próprio contou ao jornal L.A Times, nasceu do exemplo de sua mãe, que nasceu na Hungria e esteve em um campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial, conseguindo fugir, enquanto outros familiares não tiveram a mesma sorte.
“Eu sou o único filho de minha mãe. Eu me preocupava porque eu não tinha o direito de ferir minha mãe. A vida já fez isso o suficiente.”, disse. Ela se tornou a razão para Simmons evitar qualquer atitude que pudesse lhe causar sofrimento.
Em entrevista ao “Backstage Pass”, Simmons explicou que o fato de nunca ter se interessado por álcool ou drogas fez com que ele, frequentemente, fosse deixado de lado por outros artistas, especialmente na década de 1970.
“Eu nunca fiquei chapado ou bêbado e nunca fumei cigarros, então sempre fui um excluído dessa forma. O resto do mundo parecia movido a drogas. Eu poderia entender se fumar, beber ou ficar chapado te deixasse mais inteligente, mais rico, te deixar mais atraente. Mas nada disso acontece, de verdade. Você provavelmente vai vomitar nos sapatos que sua namorada acabou de comprar. Você não vai ficar inteligente. No dia seguinte sua cabeça vai doer. E se você bebeu muito, você não vai conseguir transar. Então eu não entendo.”, disse ele à época da entrevista.
A rejeição de Gene Simmons por drogas e álcool também tem relação direta com os primeiros anos do Kiss. Enquanto ele e o vocalista/guitarrista Paul Stanley tentavam construir um verdadeiro império, os colegas Ace Frehley (guitarra) e Peter Criss (bateria) bebiam e se drogavam com frequência, muitas vezes comprometendo a banda e com idas e vindas ao longo dos anos.
O cantor e baixista afirmou se arrepender por não ter sido mais duro com a dupla. Também os criticou, embora reconheça a importância de ambos para o grupo.
Em entrevista ao podcast “Your Mom’s house with Christina P. and Tom Segura” o artista contou a história da única vez em que ficou chapado, ao comer brownies com maconha sem saber que continham a erva.
Simmons acabou salvo por um editor da revista Creem, que o levou para um lugar onde pudesse comer alguma coisa. Minutos depois, tudo estava bem de novo. Desde esse dia, em algum momento da década de 1970, o músico do Kiss nunca mais se sentiu chapado, nem mesmo sem querer, como foi o caso.
Há 3 semanas, nos dias 14 e 15 de novembro, a banda fez os primeiros shows desde a aposentadoria. Eles voltaram a se apresentar ao vivo após quase dois anos da conclusão da turnê de despedida, End of the Road, finalizada em dezembro de 2023.
O intuito foi celebrar o 50º aniversário do fã-clube oficial “Kiss Army” e manteve a promessa: sem mais turnês, mas com possibilidade de apresentações pontuais.
A comemoração aconteceu no evento Kiss Kruise: Landlocked in Vegas, nos Estados Unidos, e contou com duas performances distintas, ambos sem maquiagem e o figurino que marcaram tanto a história do grupo.
Na sexta, a banda se apresentou em formato acústico. Paul Stanley (voz e guitarra), Gene Simmons (voz e baixo), Tommy Thayer (guitarra) e Eric
Singer (bateria) aproveitaram para homenagear Ace Frehley, falecido em 16 de outubro, aos 74 anos.
Na ocasião, Paul Stanley afirmou: “Pensem em alguém que é a base desta banda. Estamos falando de Ace. Certamente tivemos diferenças, mas é isso que significa família. Por que não dedicamos um momento… pensando nele olhando por nós lá de cima?”
Além dos quatro integrantes da formação derradeira, quem também subiu ao palco foi Bruce Kulick. O ex-guitarrista da banda, membro entre 1984 e 1996, participou das duas músicas finais do set: “Lick It Up” e “Rock And Roll All Nite”.
Sim, rock and roll all night and party every day. Que a gente sempre possa celebrar a vida e a música!
A mãe de Gene Simmons, Florence “Flora” Klein, morreu em 2018. Na época, o astro do rock publicou em suas redes sociais: “Perdi minha mãe. Minha mentora. Minha bússola moral. E estou com o coração partido. Minha mãe, Flora Klein, faleceu aos 93 anos de idade. Sem doença. Sem dor. Ela simplesmente, silenciosamente, foi dormir. Minha mãe sempre estará em meus pensamentos e em meu coração. Hoje. E para sempre. E eu pediria a todos vocês que corressem, colocassem seus braços em volta de sua mãe, a beijassem e dissessem a ela o quanto a amam. Façam isso todos os dias!”
