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Igor Rocha
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Economista-chefe da Fiesp com profundo conhecimento em macroeconomia, setor industrial e políticas públicas, Igor Rocha traz a visão do setor produtivo. Ele analisa o cenário econômico no Brasil e no exterior com foco nos indicadores, nas políticas monetárias e fiscais, e no impacto desses fatores para a indústria e o cidadão brasileiro.

Operação no Banco Master expõe riscos e aumenta a pressão por mais fiscalização no setor

Remuneração muito acima da média e impacto no FGC reacendem debate sobre segurança

A instabilidade envolvendo o Banco Master já vinha sendo observada de perto pelos agentes do mercado, que notavam sinais de desequilíbrio nos retornos oferecidos pela instituição. As taxas pagas em CDBs chamavam atenção pela diferença expressiva em relação ao restante do sistema, o que levantava dúvidas sobre a sustentabilidade das operações no médio e longo prazo. A forma como os recursos eram aplicados também gerava questionamentos sobre a capacidade de solvência da instituição.

O desenrolar dos acontecimentos confirmou parte dessas percepções. Apesar de o episódio ter provocado reação nos mercados, o impacto não se traduziu em um movimento abrupto de aversão a risco. A Bolsa registrou queda, mas o dólar também recuou, resultado influenciado por fatores externos que afetaram o desempenho das bolsas globais. O comportamento do mercado, portanto, não foi determinado exclusivamente pelo cenário doméstico envolvendo o Master, mas por um conjunto de variáveis internacionais.

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Nas semanas anteriores, a Bolsa brasileira havia acumulado altas sucessivas, o que contribuiu para uma acomodação natural diante de choques externos e dos desdobramentos internos. Entre os fatores observados pelos investidores está a divulgação do balanço de uma gigante do setor de tecnologia, cujo desempenho é considerado um termômetro sobre o avanço — e possíveis excessos — relacionados à inteligência artificial. O ambiente externo, combinado com o feriado nacional que afeta o funcionamento do mercado local, reforçou a postura mais cautelosa.

No cenário doméstico, o acompanhamento do Banco Central foi determinante para conter especulações e evitar reações mais intensas. O caso, entretanto, reacendeu discussões sobre o comportamento dos investidores diante de promessas de rendimentos muito acima da média. Enquanto o mercado remunerava determinados títulos a uma taxa padrão, as ofertas do Master chegavam a superar em até 100 pontos percentuais o retorno de produtos similares, o que despertava atenção.

A atratividade desses investimentos estava fortemente ligada à cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que assegura até R$ 250 mil por CPF em caso de quebra da instituição financeira. Esse mecanismo, embora fundamental para a segurança do sistema, não foi criado para ser utilizado como garantia para aplicações que já nascem com risco elevado. A lógica equivale a adquirir um seguro sem a intenção de dirigir com responsabilidade — uma distorção que, quando repetida em grande escala, afeta toda a estrutura do mercado.

Leia Mais: Igor Rocha: Mercado já esperava que algo fosse acontecer com o Banco Master

Remunerações excessivamente altas carregam, inevitavelmente, riscos proporcionais. Não há ganho elevado sem a contrapartida da possibilidade de perdas. Esse episódio reforça um alerta clássico, mas que frequentemente é ignorado: retornos muito acima da média exigem redobrada cautela sobre a origem do rendimento, o modelo de negócio e a solidez da instituição emissora.

O impacto sobre o FGC também chamou atenção. Estima-se que cerca de R$ 41 bilhões precisem ser utilizados para cobrir investidores, o que representa aproximadamente um terço do fundo. A cifra é significativa e levanta preocupações não apenas entre aplicadores, mas também entre reguladores e instituições responsáveis pela supervisão do sistema bancário. Episódios anteriores, como os casos de bancos médios que enfrentaram dificuldades há mais de uma década, não tiveram magnitude comparável ao atual.

O caso Master, portanto, funciona como um marco que sinaliza a necessidade de intensificar mecanismos de vigilância, compliance e transparência no setor. Também reforça a importância de que investidores — especialmente os menos experientes — avaliem cuidadosamente produtos que prometem ganhos muito acima do padrão de mercado. A busca por rentabilidade nunca deve prescindir da análise de risco e da clareza sobre possíveis consequências.

Apesar do impacto relevante, o sistema financeiro brasileiro permanece operacional e monitorado de perto pelas autoridades, que já acompanhavam o desenrolar da situação. O episódio deve estimular novos debates sobre regulação e fortalecer práticas de prevenção para evitar que eventos semelhantes gerem instabilidade no curto prazo. O alerta fica para todos os envolvidos — investidores, instituições e órgãos reguladores — sobre a necessidade de prudência e vigilância constante.