
O Reino Unido anunciou que vai voltar a integrar o programa Erasmus, iniciativa de intercâmbio promovida pela União Europeia, encerrada de forma deliberada após o Brexit. A decisão marca um movimento relevante na relação entre britânicos e europeus e recoloca em pauta os efeitos práticos da saída do país do bloco, ocorrida oficialmente em 1º de janeiro de 2021.
Antes de tratar do impacto do retorno ao Erasmus, é necessário relembrar o que foi o Brexit. O termo surgiu da junção das palavras Britain e exit, que significa saída, e se refere à decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia. O processo teve início em 2016, quando o então primeiro-ministro britânico, David Cameron, do Partido Conservador, convocou um plebiscito para que a população decidisse se o país deveria ou não permanecer no bloco europeu. O resultado foi apertado: 52% dos eleitores votaram pela saída, enquanto 48% optaram pela permanência.
O contexto da época foi marcado por forte temor relacionado ao terrorismo, além de um sentimento crescente contra a imigração, especialmente de cidadãos vindos do leste europeu. Ganhou força o discurso de que estrangeiros estariam tirando empregos dos britânicos. A campanha a favor da saída foi apontada como baseada em informações falsas e promessas que não se concretizaram. Com a efetivação do Brexit, o Reino Unido deixou de fazer parte de um grupo restrito de países que garante aos seus membros a livre circulação de pessoas, bens e serviços. Isso significava o direito de morar e trabalhar em qualquer país do bloco europeu como se estivesse no próprio país, além de comercializar produtos e serviços sem barreiras internas.
A avaliação apresentada é de que o Brexit foi uma péssima decisão. Ao longo dos anos seguintes, passou a ser possível observar um Reino Unido economicamente pior, mais isolado e mais burocrático. A percepção é de um país mais pobre em termos relativos, com mais dificuldades para atrair pessoas, investimentos e talentos.
Dentro desse cenário, a saída do programa Erasmus teve impacto direto no intercâmbio de jovens. O Erasmus é um programa de mobilidade acadêmica entre universidades europeias, que permite aos estudantes cursarem parte da graduação ou da pós-graduação em outro país do bloco, pagando taxas reduzidas. Estudantes brasileiros, inclusive, podem participar por meio de bolsas. Antes do Brexit, o Reino Unido fazia parte do programa e era um dos destinos mais procurados.
Após a saída da União Europeia, o Reino Unido decidiu também deixar o Erasmus, apesar de poder ter permanecido. À época, o então primeiro-ministro Boris Johnson afirmou que a participação não era economicamente vantajosa. A decisão foi considerada polêmica e recebeu muitas críticas. Apenas no último ano antes da saída, mais de 18 mil estudantes britânicos realizaram intercâmbio em países da União Europeia, enquanto cerca de 30 mil europeus estudaram em universidades britânicas.
Com o fim da livre circulação de pessoas, o intercâmbio entre jovens diminuiu de forma significativa. A fase da vida em que estudantes concluem o ensino médio ou estão na universidade, tradicionalmente associada à experiência de morar fora, passou a ter mais obstáculos. A saída do Erasmus agravou ainda mais esse cenário. Um exemplo prático é observado no ambiente acadêmico: em cursos de mestrado no Reino Unido, o número de estudantes europeus caiu de forma acentuada. Antes, esses alunos pagavam as mesmas taxas que os britânicos. Agora, são tratados como estudantes internacionais, com custos anuais milhares de euros mais altos, além da exigência de visto e permanência limitada.
O contexto político também é citado. Boris Johnson, principal figura da campanha a favor do Brexit e que chegou ao cargo de primeiro-ministro impulsionado por esse discurso, acabou deixando o governo após escândalos durante a pandemia, quando impôs regras rígidas de isolamento enquanto participava de confraternizações na residência oficial. Esse episódio contribuiu para sua queda.
A decisão anunciada agora prevê que o Reino Unido volte oficialmente ao programa Erasmus a partir de 2027. A medida ocorre sob um novo governo trabalhista, liderado por Keir Starmer, que tem como uma de suas prioridades estreitar os laços com a União Europeia. Desde então, Reino Unido e bloco europeu vêm firmando acordos paralelos nas áreas de defesa, ciência e cooperação institucional. O retorno ao Erasmus é apontado como a primeira grande medida prática que reverte diretamente um efeito do Brexit.
Com a retomada do programa, estudantes britânicos poderão passar até um ano em universidades europeias pagando cerca de 30% menos em taxas, e o mesmo valerá para estudantes europeus no Reino Unido. A expectativa é de que as universidades se beneficiem financeiramente e que a economia britânica também seja impactada positivamente.
Além disso, o retorno ao Erasmus abre caminho para discussões mais amplas. Está em debate um possível acordo futuro que permitiria a jovens entre 18 e 30 anos, tanto do Reino Unido quanto da União Europeia, viver e trabalhar livremente entre os países por até três anos. A proposta representaria uma retomada parcial e temporária da livre circulação de pessoas.
A avaliação apresentada é de que, embora não seja possível reverter o Brexit, a tendência é que novas medidas semelhantes sejam adotadas. O retorno ao Erasmus é visto como uma notícia positiva e um sinal concreto de reaproximação entre o Reino Unido e a União Europeia após anos de afastamento institucional.
