Depois de três anos e meio de trabalho, uma comissão independente divulgou os resultados do inquérito que investigou como o governo britânico lidou com a pandemia de Covid-19. O relatório, com cerca de 800 páginas, concluiu que as autoridades fizeram pouco e demoraram a agir. O documento afirma que, se o Reino Unido tivesse decretado lockdown uma semana antes, seria possível ter salvado aproximadamente 23 mil vidas. O primeiro confinamento nacional foi implementado em 23 de março de 2020.
A análise também aponta que o governo do então primeiro-ministro Boris Johnson, do Partido Conservador, atuou de maneira descrita como caótica e tóxica. Segundo o relatório, nenhum dos quatro países que compõem o Reino Unido possuía infraestrutura adequada para enfrentar uma pandemia e tampouco para lidar com os impactos de novas ondas, especialmente no que se refere à situação das pessoas vulneráveis, das crianças e da economia.
Entre os episódios citados como representativos da condução do período, há duas situações que ganharam grande repercussão pública. A primeira ocorreu em 11 de março de 2020, quando foi realizada a partida de futebol entre Liverpool e Real Madrid pela Liga dos Campeões. O estádio estava lotado, com a presença de milhares de torcedores vindos da Espanha. O governo decidiu não adiar o evento. Posteriormente, autoridades chegaram à conclusão de que a realização do jogo foi um erro, pois contribuiu para a disseminação do vírus.
O segundo episódio ficou conhecido como Partygate. A imprensa divulgou que Boris Johnson participou de festas na sede do governo, em Downing Street, durante a pandemia, ao mesmo tempo em que a população era orientada a permanecer em casa. As revelações provocaram forte reação pública e política, culminando na renúncia de Johnson em 2023.
O documento destaca que quase 230 mil pessoas morreram no Reino Unido em decorrência da Covid-19 entre março de 2020 e maio de 2023. Os dados consideram apenas os casos em que a doença aparece listada como causa de morte no atestado de óbito. Após a publicação do relatório, alguns políticos passaram a fazer declarações públicas pedindo desculpas.
Apesar das conclusões, o inquérito não resultará em acusações formais ou criminais contra autoridades. Os autores do estudo apresentaram 19 recomendações destinadas ao governo. Entre elas, está a necessidade de melhorar a forma como as autoridades se comunicam com a população, para que as pessoas possam compreender melhor as regras e os riscos envolvidos e, assim, manter confiança nas orientações oficiais. Outra recomendação é que o país se prepare de maneira mais consistente para futuras pandemias.
O atual governo trabalhista, liderado pelo primeiro-ministro Keir Starmer, afirmou que irá analisar todas as recomendações com cuidado.
