Um mês no ar. E que mês. Um projeto que nasceu da vontade de fazer diferente, ganhou o nome de TMC e, de alguma forma, me encontrou exatamente no momento em que eu também buscava me reencontrar. É curioso – e bonito – perceber como duas mudanças podem caminhar lado a lado: enquanto uma rádio procurava um novo jeito de existir, eu procurava o meu.
E tudo isso acontece agora, justamente nessa época em que o ano começa a pedir balanços, mesmo quando a gente não pede por eles. Dezembro tem esse poder de convocar uma certa revisão interna. E, no meu caso, ainda traz o lembrete do meu aniversário, o que deixa tudo ainda mais simbólico. Ciclos se fecham, outros começam a se insinuar – e eu me vejo bem no meio desses dois movimentos.
É desse lugar que escrevo para vocês que me leem, me escutam e me acompanham todos os dias. Com a sensação clara de que nada disso foi por acaso.
Porque, há um ano, em novembro passado, eu não fazia ideia do tanto de mudanças que estavam por vir. Naquele momento, eu estava em um lugar que hoje reconheço como distante do meu eixo. E não era o mundo ao redor – era dentro. Um descompasso silencioso, porém insistente. Quem me conhece bem sabe (numa adaptação livre do nosso “quem escuta, sabe”) como esse processo me atravessou.
Preciso admitir que a parte mais difícil da inquietação foi entender que, quando a gente ajusta o passo, o caminho se revela. Mais do que chegar onde queremos, é preciso descobrir como chegar. O que fazer para pisar no trilho certo? De que mantimentos vamos precisar? São detalhes que passam despercebidos por quem tem a pressa coçando por dentro. Eu demorei, mas quando entendi isso, tudo ficou menos penoso. Confiei mais em mim. E comecei a acreditar que o meu crescimento dependia também da disposição de chegar onde sempre quis.
Depois desse alinhamento, o caminho segue quase como um roteiro conhecido: você quer muito, você se prepara, você confia na espera – e o momento chega. Não foi diferente para mim.
O sinal da mudança veio de forma despretensiosa, quase como quem diz: “achou que eu ia te esquecer?”. E como eu já estava em paz com o processo, demorou um pouco para perceber a bifurcação à frente. De repente, novas possibilidades começaram a se moldar. O que estava inquieto em mim voltou a dar sinais de vida. E aí, não havia espaço para medo. O medo paralisa. A vida pede movimento.
Foi isso que aconteceu. De novembro do ano passado para cá, posso dizer que me sinto mais viva do que antes. Muita coisa mudou. Mas, no fundo, foi só a vida encontrando o seu compasso de novo. Mudanças grandes nem sempre vêm com barulho – às vezes acontecem quando você abre espaço para elas. Assim como a TMC: uma transição que, embora parecesse brusca, aconteceu de forma ritmada.
E o que está nos meus balanços?
Está o entendimento de que um mês é pouco – mas, quando você está onde queria estar, tem o peso de um ciclo inteiro. Está esse começo da TMC: intenso, desafiador, vivo. A prova de que, quando um projeto nasce no tempo certo, tudo encontra um ritmo próprio. Não necessariamente fácil – mas natural.
Está também a sensação de alinhamento. De finalmente colocar em prática tudo aquilo que eu preparava em silêncio. De perceber, manhã após manhã, que eu não cheguei aqui por acaso: eu cheguei porque quis, construí, esperei e confiei no processo.
E está o aprendizado: começar algo novo exige escuta, elasticidade e coragem para ajustar a rota sem perder o norte. É crescer junto com o projeto, aceitar o que muda, entender o que fica.
E, por fim, está a constatação mais simbólica de todas: a mudança profissional casou com a minha mudança pessoal. Os dois movimentos se impulsionaram e se explicaram. Enquanto a TMC encontrava seu tom, eu reencontrava o meu.
Enquanto uma rádio se reinventava, eu também me reinventava.
