Na Semana da Consciência Negra, o rapper Baco Exu do Blues lançou seu novo álbum de estúdio, intitulado HASOS, uma referência à obra Davi com a Cabeça de Golias, do artista italiano Caravaggio. Na pintura, vemos Davi segurando a cabeça de Golias, demonstrando sua vitória sobre ele. Mas, diferente do que esperamos, ele não parece satisfeito com sua conquista. Ele não celebra; pelo contrário, há um incômodo ali, quase um peso.
Essa imagem dialoga diretamente com o que os fãs de Baco vêm pedindo há algum tempo: aquele tom agressivo visto em Esú, seu primeiro e aclamado disco. Mas, assim como Davi, ele parece rejeitar essa ideia de violência.
Um dos aspectos mais interessantes da obra de Caravaggio está em um detalhe escondido, percebido apenas por quem observa com muita atenção. Na espada de Davi, é possível ver a inscrição “H-AS OS”, uma abreviação em latim que significa “A humildade mata o orgulho”. Esse detalhe reforça a ideia central do álbum: a escolha pela introspecção em vez da violência.
Baco afirmou em suas redes sociais que o disco é um convite à terapia. Em suas palavras: “Hasos é um divisor de profundidade. É um disco que foi feito para incomodar, foi feito para doer. Foi um disco difícil de fazer, bem difícil de fazer. Foi um processo doloroso. O projeto que mais vai aproximar as pessoas de mim. Ou afastar de vez.”, comentou o rapper com bom humor.
Além disso, o álbum traz referências que vão da mitologia grega à literatura, passando por artes visuais, religiões de matriz africana, Elis Regina e cinema. Tudo isso aparece em uma musicalidade sofisticada, que vem emocionando muitos fãs nas redes sociais.
Nas colaborações, Hasos conta com as participações de Teto, Mirella Costa, Sued Nunes, Joyce Alane, Zeca Veloso, Vanessa da Mata, IVYSON e Carol Biazin.
A capa do disco foi criada pelo artista baiano Brendon Reis, conhecido por pintar pessoas negras em tons de azul. Baco não poupou elogios ao pintor, dizendo que seu trabalho está à frente do nosso tempo.
HASOS é um álbum profundamente envolvido com a cultura negra e fala sobre dores internas, vulnerabilidade e humildade em meio às batalhas do cotidiano.
