A Motiva (antiga CCR) venceu o leilão da rodovia Fernão Dias ao oferecer 17,05% de desconto na tarifa de pedágio prevista no contrato repactuado.
O certame ocorreu nessa quinta-feira (11/12) na B3, em São Paulo, e representa a primeira substituição de concessionária por meio de venda assistida pelo governo federal. A Arteris, atual administradora da via que liga São Paulo a Belo Horizonte, apresentou proposta sem desconto.
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A transferência de controle entre as empresas deve ser concluída em três a quatro meses. Para finalizar a transição, a Motiva precisará pagar cerca de R$ 295 milhões pelas ações da Arteris e assumir debêntures de R$ 502 milhões.
A EPR, em parceria com a Perfin, ficou em segundo lugar no leilão com proposta de 11,25% de desconto. A diferença significativa entre as ofertas eliminou a necessidade de disputa na fase de lances verbais.
A BR-381 (Fernão Dias) possui 562 quilômetros de extensão e recebe mais de 250 mil veículos diariamente, constituindo importante corredor logístico entre dois dos principais estados brasileiros.
O ministro dos Transportes, Renan Filho, criticou a ausência de desconto na proposta da Arteris. “Esperava um esforço maior” da empresa, disse o ministro, atribuindo o lance de 0% a uma “falta de esperança no futuro” por parte da companhia.
Fontes próximas às negociações indicam que a Arteris já havia chegado “ao limite” durante as tratativas do contrato com a SecexConsenso do TCU. A decisão da empresa pode estar relacionada ao seu atual portfólio de ativos em repactuação, que inclui a Autopista Fluminense, Régis Bittencourt, Autopista Litoral Sul e Autopista Planalto Sul.
A Arteris administra o trecho desde 2008, mas enfrentou desequilíbrio financeiro quando os custos de obras e manutenção superaram as previsões iniciais, enquanto a arrecadação ficou abaixo do projetado.
Com a nova administração, estão previstos investimentos de R$ 15,3 bilhões até 2040. Desse total, R$ 9,5 bilhões serão destinados a obras e R$ 5,4 bilhões a serviços operacionais.
O plano de melhorias inclui 108 km de faixas adicionais, 14 km de vias marginais, 9 km de correções de traçado, 29 passarelas, 17 interseções otimizadas e dois Pontos de Parada e Descanso.
Após a assinatura do termo aditivo, a tarifa de pedágio será recalculada. Segundo Renan Filho, o valor deve ficar inicialmente em torno de R$ 3,60. Para implementar esse novo valor, a concessionária precisará executar pelo menos 90% das obras previstas para o primeiro trimestre.
A Motiva fortaleceu sua posição financeira após vender 20 aeroportos ao grupo mexicano Asur por R$ 11,5 bilhões em novembro. A empresa vendeu 17 aeroportos no Brasil e três na América Latina.
Após essa reconfiguração, concentrou investimentos nos setores rodoviário e de mobilidade urbana, obtendo valorização de 55% no mercado em 2025. Na quinta-feira, suas ações fecharam com alta de 0,95%, atingindo R$ 15,50.
“Vamos continuar com o apetite seletivo, buscando ativos que se encaixem no perfil da Motiva, mas com a intenção de vencer mais leilões”, afirmou o diretor da Motiva, Eduardo Camargo. Segundo ele, a concessão da Fernão Dias é “completamente aderente” à estratégia da companhia.
Com o leilão da Fernão Dias, o Ministério dos Transportes encerrou sua agenda de certames para 2025, totalizando 13 ativos licitados. Entre os projetos do ano, destacam-se os lotes 4 e 5 das rodovias integradas do Paraná, arrematados pela EPR/Perfin e pelo fundo Pátria, respectivamente.
A Way Concessões conquistou a Rota Sertaneja com o maior deságio do ano (24,8%). A Rota Agro Norte teve como vencedores a 4UM Investimentos e Opportunity. O consórcio formado por Construcap, Ohla e Copasa venceu o leilão da BR-040/495/RJ/MG.
Três contratos repactuados permaneceram com suas gestoras originais por falta de concorrência: a MSVia continuou com a Motiva, a Eco101 com a EcoRodovias e a Autopista Fluminense com a Arteris.
Durante o evento de encerramento dos leilões, o diretor-geral da ANTT, Guilherme Sampaio, solicitou apoio do ministro Renan Filho para preservar o trecho do PLDO de 2026 que protege o orçamento das agências reguladoras contra congelamentos. Em resposta, o ministro afirmou: “Mas eu posso me comprometer com, em caso de veto, fazer o que eu tenho feito até agora, que é garantir as condições financeiras para que a agência cumpra os seus compromissos com servidores e com fornecedores”.
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