Autoridades de imigração dos Estados Unidos prenderam um professor visitante da Faculdade de Direito de Harvard nesta semana depois que ele se declarou culpado de disparar uma arma de chumbinho perto de uma sinagoga de Massachusetts no dia anterior ao Yom Kippur, informou o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos na quinta-feira (05/12).
Carlos Portugal Gouvêa, cidadão brasileiro, foi preso na quarta-feira pelo Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA depois que seu visto temporário de não imigrante foi revogado pelo Departamento de Estado dos EUA.
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O governo do presidente Donald Trump rotulou o caso como um “incidente de tiros antissemita”, descrição em desacordo com a forma como as autoridades locais descreveram o caso.
Gouvêa, professor associado da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo que lecionou em Harvard durante o outono nos EUA, concordou em deixar o país, informou o Departamento de Segurança Interna.
Ele não pôde ser contatado imediatamente para comentar o assunto e a Universidade de Harvard não quis se pronunciar.
A prisão de Gouvêa ocorre no momento em que o governo Trump pressiona Harvard a chegar a um acordo para resolver uma série de alegações feitas contra a instituição, incluindo a de que Harvard não fez o suficiente para combater o antissemitismo e proteger os estudantes judeus no campus.
A famosa universidade entrou com processo contra algumas das medidas que o governo tomou contra a instituição, levando um juiz a decidir, em setembro, que o governo encerrou ilegalmente mais de US$ 2 bilhões em bolsas de pesquisa concedidas à universidade.
Gouvêa havia sido preso pela polícia local no dia 1º de outubro após responder a uma denúncia de uma pessoa com uma arma perto do Templo Beth Zion na véspera do feriado judaico do Yom Kippur.
Gouvêa disse que estava usando uma arma de chumbinho para caçar ratos nas proximidades, de acordo com um relatório policial.
Em novembro, ele concordou em se declarar culpado por disparar ilegalmente a arma de chumbinho e cumprir seis meses de liberdade condicional pré-julgamento.
Outras acusações que ele enfrentava por perturbação da paz, conduta desordeira e vandalização de propriedade foram descartadas como parte do acordo judicial.
Apesar das alegações do governo Trump, o Templo Beth Zion disse anteriormente aos membros de sua comunidade que o incidente não parecia ter sido motivado por antissemitismo, uma opinião compartilhada pelo Departamento de Polícia de Brookline, que investigou o caso.
Segundo o templo, a polícia informou que Gouvêa “não sabia que morava perto de uma sinagoga e que estava atirando com sua arma de chumbinho próxima a ela, nem que era um feriado religioso”.
USP defende professor brasileiro
Em nota, a Faculdade de Direito da USP negou que o episódio tenha qualquer conotação antissemita. “O professor tem afinidades, inclusive laços familiares, com a comunidade judaica. Registre-se, ainda, que o Professor Carlos Portugal Gouvêa possui histórico posicionamento em defesa dos Direitos Humanos.”
A faculdade repudiou qualquer “insinuação maldosa” sobre Gouvêa. “O Professor Carlos Portugal Gouvêa, do Departamento de Direito Comercial, tem atividade acadêmica pautada pela competência técnica, dedicação à docência e à pesquisa e elevado profissionalismo”.
“Por tudo isso, a Faculdade de Direito da USP repudia as insinuações maldosas e distorcidas lançadas contra o seu docente, Professor Carlos Pagano Botana Portugal Gouvêa”, registrou a nota, assinada pelo diretor da Faculdade de Direito da USP, Celso Fernandes Campilongo.
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Por Reuters
