Rosen Zhelyazkov, primeiro-ministro da Bulgária, apresentou sua renúncia nesta quinta-feira (11) em resposta às manifestações massivas organizadas por jovens da Geração Z nas ruas do país. O governo de coalizão minoritária liderado pelo partido de centro-direita Gerb anunciou a decisão momentos antes de uma votação de moção de desconfiança no Parlamento búlgaro.
A administração de Zhelyazkov tornou-se o primeiro governo europeu a cair devido a protestos conduzidos por jovens nascidos entre 1997 e 2012. A renúncia ocorre em momento crucial para o país, que está prestes a ingressar na zona do euro em 1º de janeiro, após ser membro da União Europeia desde 2007.
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Os protestos na Bulgária foram motivados principalmente pela insatisfação com políticas econômicas e indignação com a corrupção. Na semana anterior, o governo já havia recuado de seu projeto orçamentário para 2026, que propunha aumentos nas contribuições para seguridade social e nos impostos sobre dividendos.
“Nossa coalizão se reuniu, discutimos a situação atual, os desafios que enfrentamos e as decisões que devemos tomar com responsabilidade”, afirmou Zhelyazkov ao confirmar a renúncia. O premiê reconheceu a natureza das manifestações: “Percebemos que os protestos foram contra a arrogância e a presunção. Não se trata de um protesto social, mas sim de um protesto por valores. Não foi um encontro de opositores políticos sobre políticas, mas sim sobre atitudes, e, portanto, une diferentes componentes da sociedade búlgara.”
As manifestações na Bulgária seguem uma tendência global de mobilizações lideradas pela Geração Z, que já provocaram quedas de governos em Bangladesh, Nepal, Sri Lanka e Madagascar. Países como Peru, Filipinas e Sérvia também enfrentam pressões semelhantes de movimentos jovens.
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Milhares de búlgaros participaram de protestos na quarta-feira (10/12) em diversas cidades. Mesmo após o recuo do governo em relação ao orçamento, as manifestações continuaram, refletindo um descontentamento mais profundo em uma nação que realizou sete eleições nacionais nos últimos quatro anos, com a mais recente em outubro de 2025.
O presidente búlgaro Rumen Radev, que havia solicitado a renúncia do governo no início da semana, manifestou-se nas redes sociais após o anúncio. Em mensagem direcionada aos parlamentares no Facebook, Radev escreveu: “Entre a voz do povo e o medo da máfia, ouçam as praças públicas”.
Asen Vassilev, líder do partido de oposição Continuamos a Mudança, declarou que a renúncia “é o primeiro passo para que a Bulgária se torne um país europeu normal”. Vassilev acrescentou: “O próximo passo […] é realizar eleições justas e livres, que não sejam marcadas por manipulação eleitoral, como foi o caso das últimas eleições parlamentares”.
Conforme estabelece a Constituição da Bulgária, o presidente Radev agora solicitará aos partidos com representação no Parlamento que trabalhem para formar um novo governo. Caso não consigam chegar a um acordo, Radev nomeará uma administração interina até a realização de novas eleições.
O gabinete de Zhelyazkov permanecerá em suas funções até que um sucessor seja eleito pelo Parlamento ou que novas eleições sejam realizadas.
A Geração Z liderou os protestos em Sófia na quarta-feira (10/12). Os manifestantes entoavam frases como “não permitiremos que mintam para nós. Não permitiremos que nos roubem”. As manifestações ocorreram em frente ao Parlamento, onde faixas exibiam mensagens como “a Geração Z está chegando” e “Bulgária jovem sem máfia”.
O que começou como um protesto pacífico evoluiu para confrontos com as forças de segurança quando grupos menores de manifestantes se dirigiram aos escritórios dos principais partidos da coalizão governista. Os manifestantes arremessaram garrafas, fogos de artifício e pedras contra os edifícios e policiais presentes.
Os serviços de emergência informaram que diversas pessoas feridas foram encaminhadas a hospitais, enquanto muitas outras receberam atendimento médico no próprio local dos protestos. As autoridades policiais relataram que dez manifestantes foram detidos durante os confrontos.
A Geração Z tem se destacado globalmente como uma força política emergente, utilizando seu conhecimento digital para organizar manifestações contra autoritarismo, corrupção e desigualdade econômica através de ativismo de rua. Mobilizações semelhantes também provocaram instabilidade política no México, Indonésia e Peru.
