Celso Amorim, assessor de política externa do presidente Lula, alertou que uma possível invasão militar dos Estados Unidos à Venezuela poderia resultar em um conflito semelhante ao do Vietnã na América do Sul. A declaração foi feita em entrevista ao jornal britânico “The Guardian”, publicada nesta terça-feira (09/12).
O diplomata brasileiro classificou a recente ordem de Donald Trump para fechar o espaço aéreo venezuelano como “um ato de guerra” e “totalmente ilegal”. Amorim manifestou preocupação com o agravamento da crise nas próximas semanas, em um contexto de crescente tensão entre Washington e Caracas.
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“A última coisa que queremos é que a América do Sul se torne uma zona de guerra – e uma zona de guerra que inevitavelmente não seria apenas uma guerra entre os EUA e a Venezuela. Acabaria tendo envolvimento global e isso seria realmente lamentável”, declarou Amorim ao periódico britânico.
O assessor de Lula acrescentou: “Se houvesse uma invasão, uma invasão de verdade… acho que sem dúvida veríamos algo semelhante ao Vietnã – em que escala é impossível dizer.”
A tensão entre os dois países aumentou após Trump dobrar a recompensa por informações que levem à captura de Nicolás Maduro e posicionar navios de guerra americanos próximos ao território venezuelano. Navios dos EUA têm realizado ataques a embarcações venezuelanas, acusadas de transportar drogas.
Amorim destacou que mesmo governos contrários a Maduro poderiam se unir contra uma intervenção estrangeira. “Eu conheço a América do Sul… todo o nosso continente existe graças à resistência contra invasores estrangeiros”, afirmou.
O Brasil não reconheceu a vitória de Maduro na eleição presidencial do ano passado, mas se opõe a mudanças de regime baseadas na força. “Se cada eleição questionável desencadeasse uma invasão, o mundo estaria em chamas”, argumentou o diplomata.
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Segundo relatos mencionados na entrevista, Trump deu um ultimato a Maduro em telefonema realizado em 21 de novembro, exigindo que o presidente venezuelano deixasse o país.
Sobre as relações atuais entre Brasil e Venezuela, Amorim informou que já não são tão “calorosas ou intensas” como no passado. Questionado sobre a possibilidade de Maduro buscar exílio no Brasil, o assessor evitou especulações para “não parecer que estamos estimulando” essa ideia.
“No entanto, o asilo é uma instituição latino-americana [para] pessoas tanto de direita quanto de esquerda”, explicou Amorim. Ele lembrou que em 2005 o Brasil acolheu o ex-presidente equatoriano Lucio Gutiérrez após sua deposição. “Chegamos a enviar um avião para buscá-lo”, acrescentou.
Como alternativa para a crise, o assessor sugeriu a realização de um referendo na Venezuela sobre a permanência de Maduro no poder, similar ao ocorrido em 2004. “[O então presidente Hugo] Chávez aceitou a ideia, com alguma relutância, mas aceitou. Houve um referendo e ele venceu. Não sei quem venceria agora”, comentou.
Amorim enfatizou a posição brasileira de não interferência: “Se Maduro chegar à conclusão de que deixar o poder é o melhor para ele e para a Venezuela, será uma conclusão dele… O Brasil jamais imporá isso; jamais dirá que isso é uma exigência… Não vamos pressionar Maduro a renunciar ou abdicar”.
Especulações indicam que, caso decida deixar a Venezuela, Maduro poderia buscar exílio em países como Cuba, Turquia, Catar ou Rússia.
