Fiscais tributários israelenses invadiram os escritórios da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA) em Jerusalém Oriental nesta segunda-feira (08/12) e hastearam a bandeira de Israel no local. A ação foi justificada pelo município como medida para cobrar impostos imobiliários não pagos que somam 11 milhões de shekels – aproximadamente US$ 3,4 milhões. A ONU classificou o episódio como violação do direito internacional.
A entrada das autoridades israelenses aconteceu mesmo após a UNRWA ter desocupado o prédio no início de 2025, quando o país determinou o fim das operações da agência em território israelense. O município de Jerusalém informou que os fiscais acessaram o complexo depois de emitirem diversos avisos sobre a pendência financeira.
Siga a TMC no WhatsApp e fique por dentro das últimas notícias do Brasil e no mundo
Durante a operação, foram retirados veículos e equipamentos do local, conforme relatou Philippe Lazzarini, chefe da UNRWA. “Levaram motocicletas, caminhões e empilhadeiras da polícia, além de equipamentos de TI, móveis e outros bens”, declarou Lazzarini.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou-se contra a medida israelense. “Este complexo continua a ser uma instalação das Nações Unidas e é inviolável e imune a qualquer outra forma de interferência”, afirmou. “Peço a Israel que tome imediatamente todas as medidas necessárias para restaurar, preservar e manter a inviolabilidade das instalações da UNRWA e que se abstenha de tomar qualquer outra medida com relação às instalações da UNRWA”, acrescentou.
Lazzarini alertou que a ação poderia estabelecer “um precedente perigoso em qualquer outro lugar em que a ONU esteja presente no mundo”. O porta-voz da agência, Jonathan Fowler, disse que o complexo permanece como parte das instalações da ONU e negou a existência de dívidas com o município. Fowler afirmou que a organização contatou autoridades israelenses diversas vezes para lembrá-las de suas obrigações conforme convenção da qual Israel é signatário.
Em resposta às críticas, o município de Jerusalém declarou à Reuters: “Trata-se de uma dívida substancial que precisou ser cobrada após repetidas solicitações, avisos e inúmeras oportunidades dadas para quitá-la, que não foram atendidas”.
Leia mais: Líderes europeus e Zelenskiy mantêm conversações em Londres em momento “crucial” para Ucrânia
O incidente ocorreu apenas três dias após a Assembleia Geral das Nações Unidas renovar o mandato da UNRWA por mais três anos. A agência foi criada em 1949 para assistir refugiados palestinos e é considerada fundamental pelos palestinos para a preservação de seus direitos, especialmente a possibilidade de retorno aos territórios dos quais foram deslocados durante a guerra de 1948.
A entrada das autoridades israelenses aconteceu em Jerusalém Oriental, área ocupada por Israel desde 1967 e reconhecida internacionalmente como território palestino ocupado, embora o governo israelense considere toda Jerusalém como sua capital.
Em outubro de 2024, o Parlamento de Israel aprovou legislação proibindo a UNRWA de funcionar no país e impedindo contatos entre funcionários israelenses e a organização. O governo israelense alega que alguns funcionários da agência eram membros do Hamas e participaram do ataque de 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de cerca de 1.200 israelenses e desencadeou a guerra em Gaza. Nesse conflito, mais de 70.000 palestinos morreram, segundo dados das autoridades de Gaza.
