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ONGs brasileiras que atendem refugiados perdem financiamento dos EUA

Funcionários trabalham sem salários após cortes orçamentários da administração Trump. Acnur sofre redução de 25% no orçamento global, afetando 270 mil pessoas no Brasil

Instituições que atendem refugiados e pessoas vulneráveis no Brasil estão à beira do colapso financeiro devido à redução drástica de recursos internacionais. A administração Trump, que assumiu o governo americano em janeiro deste ano, implementou cortes orçamentários que afetam diretamente entidades como a Cáritas-RJ e a Casa 1.

Neste sábado (06/12), funcionários dessas organizações continuam trabalhando sem receber salários após contratos de ajuda global não serem renovados.

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A Cáritas-RJ, que recebe financiamento do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) há mais de quatro décadas, foi notificada em fevereiro sobre a interrupção de repasses previstos para 2025. A organização precisou suspender o auxílio financeiro emergencial para imigrantes, adiar cursos gratuitos de português e reduzir seu quadro de funcionários.

“Nunca vivemos nada parecido na história da Cáritas”, diz Aline Thuller, coordenadora do Programa de Atendimento a Refugiados da instituição, que trabalha sem remuneração mesmo após 18 anos de dedicação. Ela explica que a situação não reflete falta de demanda pelos serviços: “O trabalho como o nosso está em risco de fechar, não porque a gente não é mais necessário, muito pelo contrário. Mas é porque a gente está vivendo uma crise, que é uma crise de responsabilidade. Não é só uma crise financeira.”

A redução de recursos tem origem na nomeação do bilionário Elon Musk por Donald Trump para liderar o que foi chamado de “máquina do Estado”. As medidas de austeridade atingiram diretamente a USAid, braço humanitário dos Estados Unidos que representava cerca de 40% do apoio global a programas sociais. A agência praticamente encerrou suas operações após finalizar os últimos contratos em outubro.

Pablo Mattos, oficial de Relações Governamentais do Acnur Brasil, revela que a própria agência da ONU sofreu corte de quase 25% em seu orçamento anual global.

“O impacto é considerável e bastante negativo. Eu diria até que devastador”, afirma. Segundo ele, o Acnur Brasil opera com menos de US$ 4 bilhões (aproximadamente R$ 21,8 bilhões), valor não visto há uma década, quando o número de deslocados forçados no mundo era metade dos atuais 120 milhões.

“Estamos diminuindo o número de pessoal do Acnur no Brasil, incluindo Roraima, e não conseguiremos apoiar cerca de 270 mil pessoas no Brasil que precisariam de ajuda”, declara Mattos.

A Casa 1, centro cultural e de acolhida para pessoas LGBTQIA+ localizado no Bixiga, em São Paulo, anunciou que encerrará suas atividades em abril de 2026. Iran Giusti, diretor institucional da organização, relaciona a crise ao posicionamento da nova administração americana:

“Trump, já no primeiro dia de mandato, faz um pronunciamento antidiversidade e a primeira reação, quase que imediata, é a suspensão dos fundos internacionais vindos especialmente dos EUA e, depois, em uma reação em cadeia, vão ser as empresas que eram financiadoras de projetos.”

Giusti destaca os desafios específicos enfrentados pela população que atendem: “Todas as pessoas podem ficar desabrigadas se você não tem uma rede familiar, de amigos, questões de saúde mental, álcool e droga, que te impedem uma vida plena. A grande questão é que quando a gente fala do recorte das pessoas LGBTQIAPN+, o Estado não dá conta de garantir a segurança e proteção dessas pessoas.”

A crise de financiamento não se limita aos cortes americanos. França, Reino Unido e Alemanha também reduziram seus aportes para ajuda humanitária global, enquanto aumentaram gastos em Defesa, principalmente devido ao envolvimento indireto no conflito da Ucrânia.

Idrissa Deme, originário de Burkina Faso, chegou ao Brasil em 2013 e testemunha a importância dessas organizações:

“A ajuda que a Cáritas me deu não foi só a questão de documentação, mas foi também o acolhimento. Imagine uma pessoa no Brasil sem documentação, sem falar a língua, sem ter onde morar. Como é que a pessoa ia sobreviver como imigrante? Tem várias situações que eu posso contar que, talvez, se não tivesse tido a ajuda da Cáritas… eu não sei o que seria a vida dessas pessoas, por exemplo.”

A Cáritas atendeu pessoas de mais de 78 nacionalidades diferentes somente em 2025. Agora, organizações como a Casa 1 tentam se manter com doações particulares para concluir o trabalho com as pessoas atualmente assistidas.

Sobre o futuro após o encerramento das atividades, Giusti expressa preocupação:

“Eu acho que o dia seguinte depois do encerramento será um vazio. A gente é uma trincheira de uma guerra que está muito longe de acabar.”

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