O diretor de assuntos minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Julio Nery, afirmou que o Brasil necessita transformar áreas com potencial de mineração de potássio em reservas comprovadas por meio de pesquisas geológicas contínuas. A declaração foi feita neste sábado (06/12), durante entrevista ao Poder360. Segundo Nery, o desenvolvimento de projetos como o de Autazes, no Amazonas, é essencial para reduzir a dependência brasileira de fertilizantes importados.
“O Brasil tem problemas com a pesquisa. Todas as regiões exploradas hoje foram identificadas nas décadas de 1960 e 1970. Precisa desenvolver mais pesquisas geológicas para fazer esse mapeamento mais correto de regiões promissoras”, disse o diretor do Ibram.
Nery explicou que muitas áreas com potássio foram identificadas de forma indireta, quando a Petrobras realizava prospecção para petróleo e acabava encontrando o mineral. A falta de investimentos em pesquisas geológicas para localizar bacias sedimentares dificulta o desenvolvimento do setor no país.
O Convênio 100 de 1997, que zerou o ICMS sobre fertilizantes, também contribuiu para o problema. “O convênio estabelecia uma tributação que era favorável ao importado. Então, o importado entrava no Brasil sem pagar imposto. Tinha menor competitividade do produto nacional. E por causa disso, as empresas não investiram então em minas. Era mais barato importar”, afirmou o diretor.
Em 2021, o convênio foi reformulado. A isenção total foi substituída por uma tributação gradual de ICMS, que chegará a 4% a partir de 2025. A nova regra vale tanto para produtos nacionais quanto importados e está prevista para vigorar até 2027, conforme as atualizações dos convênios 26 de 2021 e 79 de 2025.
De acordo com o livro “Minerais Críticos e Estratégicos no Brasil: Um Passaporte para o Futuro”, publicado pelo Ibram, existem 304 pesquisas minerais de potássio autorizadas no Brasil e outras 13 em fase de análise.
O Projeto Potássio de Autazes, desenvolvido pela mineradora canadense Brazil Potash (Potássio do Brasil), está localizado a aproximadamente 120 quilômetros de Manaus. O empreendimento, atualmente em fase de implementação, tem previsão de iniciar suas operações em 2030.
Quando estiver em pleno funcionamento, o projeto produzirá 2,2 milhões de toneladas de cloreto de potássio granular por ano, o que corresponde a cerca de 20% da demanda brasileira pelo mineral.
A reserva em Autazes está situada em uma camada subterrânea a aproximadamente 800 metros de profundidade. A área se estende por 13 km de comprimento e 10 km de largura, com espessura média lavrável de 2,5 metros. Para acessar o minério, serão construídos dois poços.
A mina utilizará um sistema de mineração denominado “long room and pillar“. Este método consiste na criação de “Câmaras” (Rooms), que são grandes áreas escavadas formando túneis ou “câmaras” longas, e “Pilares” (Pillars), colunas de minério deixadas intactas para suportar o teto da mina.
A localização do projeto é considerada estratégica devido à proximidade com o Mato Grosso, principal produtor de grãos do Brasil. Esta posição permitirá integrar a logística do potássio ao fluxo de caminhões que transportam safras até os portos da região Norte.
“É necessário avançar em pesquisa mineral e na implantação do projeto de Autazes, por exemplo. Já tem a licença, agora a gente precisa ver esse projeto operando para diminuir então a dependência externa”, declarou Nery.
