Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, foi entregue às autoridades brasileiras na fronteira com o Paraguai na noite desta sexta-feira (26). Ele havia sido detido horas antes no Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi, em Assunção, quando tentava embarcar para El Salvador com documentos paraguaios falsos. A captura ocorreu após Vasques violar medidas cautelares e deixar sua residência em Santa Catarina na véspera de Natal.
As autoridades paraguaias identificaram a fraude quando Vasques, usando o nome falso de Julio Eduardo, apresentou documentação adulterada e um atestado médico fraudulento que alegava sua incapacidade de comunicação verbal devido a um suposto câncer cerebral.
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Jorge Kronawetter, diretor de Migrações do Paraguai, explicou os motivos da expulsão do ex-diretor da PRF: “Além de ter ingressado de maneira irregular, ele também tentou usar uma identidade que não lhe correspondia, ou seja, são duas causas previstas na nossa lei migratória para proceder à expulsão”.
Após a detenção, Vasques foi transportado por via terrestre até a fronteira com o Brasil, seguindo o protocolo paraguaio para casos de expulsão, que inclui o uso de algemas e capuz durante o trajeto.
O documento médico fraudulento apresentado por Vasques intitulava-se “Declaração Pessoal para Autoridades Aeroportuárias”, no qual afirmava: “Eu, a pessoa que apresenta este documento, informo que não falo nem ouço, devido a uma condição médica grave” e “Tenho diagnóstico de Glioblastoma Multiforme – Grau IV, câncer localizado na cabeça (cérebro), doença oncológica de prognóstico grave, razão pela qual não posso me comunicar verbalmente nem compreender instruções orais. Por esse motivo, não posso responder perguntas de forma falada”.
O Hospital Itamed, de Foz do Iguaçu, emitiu comunicado negando qualquer relação com o documento apresentado pelo ex-diretor da PRF: “A Fundação de Saúde Itaiguapy, administradora do Hospital Itamed, vem a público esclarecer informações veiculadas recentemente envolvendo a suposta realização de tratamento oncológico pelo ex-diretor da PRF. Esclarecemos que o médico citado na referida prescrição não possui vínculo com o Hospital Itamed, tampouco integra nosso corpo clínico. Inclusive, o número de CRM mencionado não corresponde a nenhum profissional atuante na instituição ou na cidade de Foz do Iguaçu.”
A instituição hospitalar também destacou inconsistências no documento: “Além de conter informações inconsistentes, o material utiliza a logomarca ‘Hospital Costa Cavalcanti’, denominação que não é mais utilizada desde 11 de dezembro de 2024, data oficial da mudança de marca da instituição para ‘Hospital Itamed’. Portanto, trata-se de um documento que não foi emitido nem validado pelo hospital.”
A fuga de Vasques começou na véspera de Natal. Câmeras de segurança registraram sua saída do condomínio em São José (SC) às 19h22 do dia 24, antes mesmo de sua tornozeleira eletrônica apresentar problemas. Imagens mostram que ele carregou um veículo alugado com itens para transporte de animais e embarcou com um cachorro da raça pitbull.
Policiais penais de Santa Catarina estiveram no condomínio entre 20h10 e 20h25 do mesmo dia, mas não o encontraram. No relatório, os agentes registraram: “Foram até o apartamento do réu, nº 706- Bloco A, mas ninguém atendeu. Também foram até a vaga de garagem, nº 333, e a encontraram vazia.”
A Polícia Federal foi acionada apenas às 23h do dia 25. Com base nas informações fornecidas, o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão preventiva de Vasques. Na decisão, o magistrado afirmou que as diligências realizadas pela PF “indicam a efetivação de sua fuga”.
Moraes destacou em sua decisão que “O réu não se encontrava em seu apartamento no momento da diligência, em violação à medida cautelar de recolhimento domiciliar noturno; estava utilizando veículo automotor alugado; esteve em seu endereço residencial até as 19h22min do dia 24/12/2025, quando não foi mais visto entrando ou saindo de carro; e carregou o veículo alugado com o seu animal de estimação e materiais para transporte de cachorro”.
Silvinei Vasques foi condenado pelo STF a 24 anos e 6 meses de prisão por participação na tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. A sentença, proferida em dezembro de 2025, determinou que ele integrou o chamado “núcleo 2” da organização criminosa. Segundo a decisão judicial, Vasques atuou para monitorar autoridades e impedir a votação de eleitores, principalmente no Nordeste, por meio de operações da PRF durante o segundo turno eleitoral.
Anteriormente, Vasques já havia sido condenado na Justiça Federal do Rio de Janeiro por uso político da estrutura da PRF durante a campanha eleitoral de 2022. A ação movida pelo Ministério Público Federal resultou em multa superior a R$ 500 mil e outras sanções cíveis.
Em janeiro de 2025, Vasques foi nomeado secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação da Prefeitura de São José (SC) pelo prefeito Orvino Coelho de Ávila (PSD). Ele pediu exoneração do cargo no mesmo dia em que foi condenado pelo STF na trama golpista, em dezembro deste ano.
